Douglas Sirk, por contraintes quer de profissão, quer da sua localização geográfica à altura (Alemanha, em vésperas da Segunda Grande Guerra) pensou muito e escreveu sobre o happy end. O “final feliz”, exigido pelos estúdios alemães e mais tarde pelos americanos, era o fechamento moral que melhor equivalia ao dinheiro do bilhete de cinema. Sirk dizia que esse final feliz não era necessariamente feliz, antes uma joie que se manifestava numa salvação, uma porta de saída que o espectador poderia utilizar no final. A comparação que utilizava era mesmo o do sinal de saída dos cinemas. Written on the Wind de 56, pertencente ao período de ouro do melodrama, o qual corresponde, mais coisa menos coisa, aos filmes que Sirk fez com o produtor Ross Hunter, é um excepcional exemplo de trabalho sobre o artificialismo. Os sets, a cor, o enredo (diz-se inspirado na vida de R.J. Reynolds, um magnata da indústria tabaqueira) tudo sublinha essa superficialidade. Mesmo a forma como o argumento corre para a situação que Sirk quer explorar – o casal Kyle/Lucy (Robert Stack/Lauren Bacall) e os “opositores” no amor Mitch/Marylee (Rock Hudson/Dorothy Malone) – e algumas linhas de diálogo, reforçam esse estranheza. O real, o que sobrevive ao tempo é a superior direcção de actores. Na muito celebrada cena final, no tribunal, “porta de saída” para a tragédia, está um dos mais arrepiantes twists da história do cinema. Quem o dá é a assombrosa Dorothy Malone (papel pelo qual viria a vencer o oscar de melhor actriz secundária nesse ano) com o olhar. Nesse olhar e nesse segundo o mundo transforma-se e a fraqueza dos Hadleys é pela primeira vez força. Rasgo emocional que quem nele não reparar (quando surge já vai a extinguir-se) pode pensar ainda no artificialismo, ou no paradoxo da mudança de atitude de Marylee. Na representação, o twist, no twist, o final feliz. Trágico e ainda assim, feliz.
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