A palavra “hanging” possui, além de outros significados, o de estado de suspensão. É essa suspensão da “Montanha Misteriosa”, como no título em português, o que melhor define o efeito de PICNIC AT HANGING ROCK de Peter Weir. O filme que catapultou Weir para o sucesso, é um thriller onírico sobre o desaparecimento em Hanging Rock, uma formação rochosa de origem vulcânica, de um grupo de raparigas de um colégio interno australiano, no dia de S. Valentim de 1900. Se esse evento dramático deveria, ou poderia, catapultar-nos para um whodunnit tenso, Weir preocupa-se antes com a vaga atracção mística da montanha (e com ela a stasis dos mountain movies) e o cuidadoso apagar de links causais, pontilhando antes uma paisagem australiana de início do século, onde a identidade sexual e passado das jovens adolescentes questionam os valores educativos desta sociedade vitoriana. Se é verdade que esse sentimento de “hanging” paira sobre o espectador, en passant pelos acontecimentos sem que os possa enquadrar num mistério de desaparecimento, há a tentação, nossa, sobretudo depois de conhecermos outro drama de integração que é DEAD POETS SOCIETY, de pensar essa elisão não só como investimento estético (louve-se a fotografia de Russel Boyd, vencedora de um BAFTA), mas sobretudo como incapacidade dramática. E perguntar: o que restaria deste PICNIC se lhe retirássemos a cirúrgica névoa que o atravessa? E ficamos entre isto e aquilo, mais uma vez, descartando isso sim, sem “suspensões”, a parecença antonioniana que muitos adiantam. Embora tenha sido adaptado de um romance de Joan Leslie, o filme carrega de início e de fim o tom de uma história verídica, construindo hábilmente uma mitificação ficcional. É precisamente essa capacidade do cinema de convocar o mito urbano que reclama o centro desta obra atmosférica. O resultado é que este desaparecimento inexplicável traz até hoje ao local muitos curiosos na ânsia de revisitar o lugar de mistério, na ânsia de provar que uma ficção pode ser bem real.
Meu filme preferido.
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