segunda-feira, 30 de abril de 2018

Mais belo e mais útil

Depois das 7
as montras são mais íntimas

A vergonha de não comprar
não existe
e a tristeza de não ter
é só nossa

E a luz torna mais belo
e mais útil
cada objecto 


António Reis (Poemas Quotidianos)

domingo, 29 de abril de 2018

Zama



E não é que passou quase uma década desde a última longa de ficção de Lucrecia Martel? O que significa esse interregno em termos práticos? Sobretudo uma coisa: eu já não sei se sou ainda a pessoa que gostou muito de La Ciénaga (2001), La mujer sin cabeza (2008) e, um pouco menos, de La niña santa (2004). E penso nisso ao ver Zama pois ele não me toca como os seus filmes anteriores, e também porque não os fui rever. Por medo do que possa encontrar e sobretudo por falta de tempo. Do que recordo destes seus três filmes, Zama tenta recuperar um certo lodaçal societário, agora em finais do sec. XVIII, uma imobilização pantanosa que tem reflexos no apagar progressivo de uma psyche. Don Diego de Zama é o hombre progressivamente sin cabeza, nos planos com perda de profundidade de campo, repetições de diálogos, apagamento da escuta, irrupção das figuras sem personagem, servos na penumbra. Neste ponto Zama é interessante pois vive de personagens que não falam, de outros que chegam e morrem, ou de elipses que parecem cortes, cortes na esperança de um homem voltar a casa. E onde é que Zama me deixa insatisfeito? Neste ponto: ele parece um filme que parte de duas ideias muito rígidas. A primeira a mitificação de um homem que espera eternamente, sendo que essa espera leva Martel a atafulhar o seu filme de episódios sem rumo, que acumulam, que servem apenas essa espera. Como se um filme sobre a espera tivesse que ser obrigatoriamente a espera por um filme. Um adiamento que vai transformando cada cena numa espécie de improvisação com roupas de época. E aqui chega a segunda ideia rígida: Zama parece ser uma brincadeira com roupas de época de uma cineasta que tem consciência de que a sua trademark é para manter. Albert Serra ou Lisandro Alonso (lembro Jauja) tiveram vontade de fazer o mesmo, mas ora a ironia, ora um sentido de narrativa mais presente, apagam mais o sentido de vazio, dão mais consistência às suas obras. Aqui, além da brincadeira, da espera como pântano, e de um herói que vive da mitologia do passado, reactualizando figuras como coronel Kurtz ou Aguirre, pouco mais temos... 

sábado, 21 de abril de 2018

Erotizando Méliès