tag:blogger.com,1999:blog-36996677466326866722024-03-14T02:16:53.761+00:00ordetCarlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.comBlogger1330125tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-13677732136096714382021-05-23T23:02:00.007+01:002021-05-23T23:02:44.786+01:00<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: times; font-size: large;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-family: times; font-size: large;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJIPqxuhnEFLQ9ShdtHb7ZV9SD7yiUGuA1cxiN_DR0feDbx_ngYyfga9tVTIoRCyHvv1JBLQsKpZKTsHz9uelNf2MXcS48hoUkZxchkYYmSjhCflrJ-Q94Sp8BW533SowIbPduEWktUWY/s1707/190287498_10222817351034879_8675023717387141990_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="1707" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJIPqxuhnEFLQ9ShdtHb7ZV9SD7yiUGuA1cxiN_DR0feDbx_ngYyfga9tVTIoRCyHvv1JBLQsKpZKTsHz9uelNf2MXcS48hoUkZxchkYYmSjhCflrJ-Q94Sp8BW533SowIbPduEWktUWY/w640-h360/190287498_10222817351034879_8675023717387141990_n.jpg" width="640" /></a></span></div><span style="font-family: times; font-size: large;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: times; font-size: large;">Toda a gente supostamente espantada com as condições miseráveis de habitação dos trabalhadores migrantes em Odemira. Fassbinder em 74. Diz que passaram "só" 47 anos.</span></p><div style="text-align: justify;"><br /></div>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-7839509472936862942021-05-12T11:28:00.005+01:002021-05-12T11:29:10.791+01:00<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"> </span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: large;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVZ532oj43_8KAuDctM1p74oafH08IKXqkHzMTc7msUH4vLVMu3bpFBBQYyLO-7qUjqZ560ogFKCE1e9SR6ORAOwFKIkyOBleAORKMCsZeTEvIRr6YirAQEnp6yJ60lTtHGu7oDOYMnU0/s1920/1.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1920" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVZ532oj43_8KAuDctM1p74oafH08IKXqkHzMTc7msUH4vLVMu3bpFBBQYyLO-7qUjqZ560ogFKCE1e9SR6ORAOwFKIkyOBleAORKMCsZeTEvIRr6YirAQEnp6yJ60lTtHGu7oDOYMnU0/w640-h360/1.jpg" width="640" /></a></span></div><span style="font-size: large;"><br /><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Le Mépris termina sob o signo do silêncio e do fim, ambos albergando um primeiro olhar de Ulisses de regresso à pátria. Contudo, antes desse regresso que faz terminar, Godard havia filmado a partida que faz começar esse mesmo fim. Como? Filmando a súbita barreira intransponível que se ergue entre duas pessoas que deixam de sentir amor correspondido. Fala-se recorrentemente dos jump cuts como técnica que passa a normalizar a instabilidade no olhar na Nouvelle Vague. Contudo, entre estes dois planos – Camille a ser “raptada” pelo produtor Prokosh e a chegada do marido Paul a casa daquele, minutos, horas (décadas?) depois – há um salto muito maior, um buraco negro. Godard mete naquela meia dúzia de planos um abismo amnésico, onde tudo muda. O fim do amor como uma temporalidade difusa, um jump cut que dura séculos e um bater de pálpebras. Nunca mais saberemos o que fez morrer o amor de Camille e Paul, não vimos nascer o desprezo, mas sabemos que aconteceu algures entre a ruína e o jardim resplandecente.</span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjN41SuXbLGNtyGG_teDpk4QCQ_DtCgDfD4Z_Ktm4NcXmK0-eRo_gf-hM4IZM_XUdMRdXRKv5DnmSo48JKJ6-I8DP_4uFiDcu_vOrXoBLuVVfgRsrmaGYpYeKZ-V_f9B-ATCSobA3u3rms/s1920/2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1920" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjN41SuXbLGNtyGG_teDpk4QCQ_DtCgDfD4Z_Ktm4NcXmK0-eRo_gf-hM4IZM_XUdMRdXRKv5DnmSo48JKJ6-I8DP_4uFiDcu_vOrXoBLuVVfgRsrmaGYpYeKZ-V_f9B-ATCSobA3u3rms/w640-h360/2.jpg" width="640" /></a></div><br /><span style="font-size: large;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><p></p><div style="text-align: justify;"><br /></div>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-46888851665676998372021-05-04T23:49:00.001+01:002021-05-04T23:50:40.795+01:00<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: times; font-size: large;"> Ao ver a proximidade dos rostos das personagens de Nomadland - em momentos quase documentais -, pensava na inversão da celebre frase que dizia que os bons filmes são sempre documentários sobre a sua rodagem. Pelo contrário, hoje, os filmes são as rodagens do seu "documentário". Já não tanto a busca do autêntico e real no cinema - ambições de um certo cinema moderno-, mas a procura de conservar uma ideia de realidade como "product placement".</span></p><div style="text-align: justify;"><br /></div>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-33064165362143069282021-05-04T23:47:00.004+01:002021-05-04T23:51:00.939+01:00<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: times; font-size: large;"> <span style="text-align: justify;">A estranheza, o abismo inexplicável de certos filmes, obras outrora primas, dá hoje lugar à superfície, à clareza das causas. Curiosamente, parte desta
clareza reivindicativa surge como resposta ao facto de termos andado, anos após
anos, a tentar deslindar esses abismos, essas relações, essas formulações
obscuras. Não gostámos do que achámos e descolonizámos essa “versão” do real, “colonizando”
o cinema enquanto linguagem artística. A pergunta "o que é isto?" deu lugar à resposta "isto é aquilo que sempre devia ter sido".</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p></o:p></p>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-91691051849767472592021-04-25T11:08:00.002+01:002021-04-25T11:08:56.500+01:00<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHhwvksV2x8u2v8O_f25p8irA5s5jHsmx7n__Zqu6UInI0p2crW3qWOXVRWh2o2dcXsh2WOmfXaZ1_LvQiaBhqXn4V9GI0LZOK05aEmYRORMEUROCi5us_z89dSpg7ER6btnkbQJi3u4g/s1920/177357589_10222608928224439_1316249455067430705_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1920" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHhwvksV2x8u2v8O_f25p8irA5s5jHsmx7n__Zqu6UInI0p2crW3qWOXVRWh2o2dcXsh2WOmfXaZ1_LvQiaBhqXn4V9GI0LZOK05aEmYRORMEUROCi5us_z89dSpg7ER6btnkbQJi3u4g/w640-h360/177357589_10222608928224439_1316249455067430705_n.jpg" width="640" /></a></div><br /><span style="font-family: times; font-size: large;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: times; font-size: large;"> “Mónica e o Desejo” costuma dizer-se é um filme de espelhos e de olhares. Reflexos de crescimento, personagens a ganhar peso à volta dos olhos. Diz-se ainda que é um filme de água e de ilhas – um idílio natural em espelho com o cinema, este uma espécie de sonho concentrado, Verões de 90 minutos. Mas Bergman ainda faz uma outra coisa que gosto muito. É capaz de mostrar no espaço de poucos minutos o mais belo, romântico e erótico – os planos das costas de Monika, o cigarro e beijo que partilha com Harry, a dança a dois no pontão deserto –, mas também o mais boçal, o mais banal dos actos. Harriet masca pastilhas de boca aberta e caça nacos de assado como um animal selvagem. É talvez também a nossa carne em espelho a que vemos quando, de estação em estação, ela ama e envelhece nos mesmos minutos, nas mesmas horas, nos mesmos anos.</span></p><div style="text-align: justify;"><br /></div>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-23376463071503457132021-03-29T13:28:00.005+01:002021-03-29T13:28:40.934+01:00<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifPltoWE76-VcnvOtrcq9ljpnGn9ICHj_RNcDA6QKBol2roV6ix-z5ROtNpuTqEeD2IuH8kS6vQtkxsEJtxNiRreTwzJpIQgHTWcxkTaPdLZpoNpsycUoCiKDS6LbsLOiSqxtfhvkEnN4/s1475/166048384_10222403734254718_4339379666899398916_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1071" data-original-width="1475" height="464" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifPltoWE76-VcnvOtrcq9ljpnGn9ICHj_RNcDA6QKBol2roV6ix-z5ROtNpuTqEeD2IuH8kS6vQtkxsEJtxNiRreTwzJpIQgHTWcxkTaPdLZpoNpsycUoCiKDS6LbsLOiSqxtfhvkEnN4/w640-h464/166048384_10222403734254718_4339379666899398916_o.jpg" width="640" /></a></div><br /> <p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Ao rever "Roma, Cidade Aberta" para uma aula dou por mim a tropeçar naquele estereotipo verdadeiro de como as obras maiores são poços sem fundo nos quais caímos sempre que lá deixamos entreter o olhar. Desta vez fiquei a cismar naquele momento em que o Don Pietro, no calabouço nazi, diz ao desertor austríaco - personagem magnífica e síntese das contradições da guerra - para ficar calmo e tentar rezar. No plano seguinte, vemos o austríaco encostado a uma parede, mais calmo, sim, rosto iluminado na cela toda escura. Ele repara em qualquer coisa fora de campo e Rossellini segue com a câmara o seu levantar. Dá uns passos na escuridão até que volta a ficar banhado de luz, mão que lentamente sobe junto à parede para tocar "isso" que acabara de ver. A luz do plano lembra-nos essa luz do céu - o padre havia-lhe dito para serenar na oração - e uma ascensão espiritual. Mas o terrível é que a luz que nos lembra esse momento de ascese é a mesma luz que nos irá revelar, afinal, o objecto da sua atenção: o cano onde se irá enforcar. Oração e suicídio numa questão de segundos, na mesma luz, no mesmo caldo ambíguo da salvação e da perdição. Perdão, da resistência.</span></p><div style="text-align: justify;"><br /></div>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-31219689092670980252021-03-19T23:47:00.001+00:002021-03-19T23:47:03.006+00:00 Diário de Clausura: à espera do cinema.<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><a href="https://www.goethe.de/ins/pt/pt/kul/sup/dig/22080982.html?fbclid=IwAR0TivrfSbChmwy1VFQ_KXACrVAAm8b9x4VYsc4UdOM_7wXER_N82mXfk3w" target="_blank">Após um longo ano em que as portas das salas permaneceram fechadas demasiadas vezes, os críticos Carlos Natálio e Patrick Holzapfel falam do cinema numa época que mais se assemelha a um filme de catástrofe. Foi a pandemia que roubou espaço e tempo ao cinema? Ou será que, graças a ela, redescobrimos um cinema que já perdêramos antes? Uma conversa.</a></span></p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-42533472473231841242021-01-30T11:32:00.005+00:002021-01-30T11:32:42.898+00:00Agamben sobre o fim<p style="text-align: justify;"> <span style="font-size: large; text-align: justify; white-space: pre-wrap;"><a href="https://www.revistapunkto.com/2021/01/quando-casa-arde-giorgio-agamben.html" target="_blank">Vivemos em casas e cidades ardidas de cima a baixo como se ainda estivessem de pé, que todos fingem habitar saindo mascarados por entre as ruínas, como se estas fossem ainda os bairros populares de antanho.</a></span></p><span id="docs-internal-guid-7bf58bf4-7fff-aa0d-cda8-09e453054016" style="font-size: large;"><a href="https://www.revistapunkto.com/2021/01/quando-casa-arde-giorgio-agamben.html" target="_blank"><div style="text-align: justify;"><br /></div><p dir="ltr" style="line-height: 1.8; margin-bottom: 12pt; margin-top: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">E a chama mudou de forma e de natureza, tornou-se digital, invisível e fria, mas precisamente por isso tornou-se ainda mais próxima, está em cima de nós e rodeia-nos a todos os instantes.</span></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">+++</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Uma cultura que se sente próxima do seu fim, já sem vida, procura governar como pode a sua ruína, através de um estado de excepção permanente.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">++</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A cara é a coisa mais humana, o homem tem uma cara e não apenas um focinho ou uma face, porque habita o aberto, porque nessa sua cara se expõe e comunica. A cara é o local da política. O nosso tempo impolítico não quer ver a sua própria cara, mantem-na à distância, cobre-a e mascara-a. Não deverão existir caras, apenas números e dígitos. Nem sequer o tirano tem cara.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: pre-wrap;">++</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: pre-wrap;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: pre-wrap;">Nos anos porvir existirão apenas monges e delinquentes. E, no entanto, não é possível simplesmente sair ou crer-se fora dos destroços deste mundo que desabou ao nosso redor. Porque esse desabamento implica-nos, somos também nós apenas mais um desses destroços. E temos de aprender a usá-los cuidadosamente do modo mais certo, sem que nos façamos notar.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: pre-wrap;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: pre-wrap;">++</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: pre-wrap;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: pre-wrap;"> Por isto teve o cristianismo de se ligar à história e seguir a sua sorte até ao fim – e quando a história, como hoje parece ocorrer, se apaga e entra em decadência, também o cristianismo se aproxima do seu crepúsculo. A sua insanável contradição é que procurava, na história e através da história, uma salvação para lá da história e que quando esta termina a terra foge-lhe debaixo dos pés. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: pre-wrap;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: pre-wrap;">++</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: pre-wrap;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: pre-wrap;">Em direcção ao presente apenas se pode regredir, enquanto no passado se avança a direito. O que chamamos passado não é senão a nossa longa regressão em direção ao presente. Separarmo-nos do nosso passado é o primeiro recurso do poder.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: pre-wrap;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: pre-wrap;">++</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: pre-wrap;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: pre-wrap;">Só pode dizer a verdade quem não tem nenhuma probabilidade de ser ouvido, quem fala numa casa que as chamas consomem implacavelmente.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: pre-wrap;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: pre-wrap;">++</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: pre-wrap;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: pre-wrap;">Hoje, a humanidade desaparece como um rosto de areia apagado pelas ondas. Mas aquilo que lhe toma o lugar já não tem mundo, é apenas uma vida nua sem história, nas mãos dos cálculos do poder e da ciência. Mas talvez, no entanto, seja a partir deste massacre que uma outra coisa poderá um dia, lenta ou bruscamente, aparecer – não um deus, certo, mas também não outro homem – um novo animal, talvez, uma alma de outro modo viva…</span></div></a></span>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-61356925846734299092021-01-21T12:42:00.005+00:002021-01-21T12:43:01.787+00:00Ecologia como ideologia<p style="text-align: justify;"><span color="var(--primary-text)" style="background-color: white; font-family: inherit; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: large;">A pandemia vai terminar? Daqui a uns meses, o regresso ao modus vivendi anterior? Ou a pandemia é um evento que segmenta e o confinamento é definitivo? Entre as catástrofes e as esperanças, afinam-se estratégias de culpabilidade (e esperemos de transformação!) ou de desresponsabilização. Sobre esta última tenho pensado bastante no argumento que vê a ecologia como uma bandeira ideológica. Um argumento que quem recusa responsabilidades pela ideia do antropoceno lança, dizendo: a terra quando quiser livra-se de nós, não somos tão poderosos assim para acabarmos com isto. Um argumento religioso: como se a Terra fosse um Deus que tudo pode e tudo sabe e que quando estiver em perigo, mata, infecta, confina. Mas se é um argumento religioso ele é-o apenas na estrita medida em que os seus defensores procuram lavar as mãos (e a consciência) do que temos feito de errado (ainda a cega crença no progresso e o caminho último do Bem). Deposito então o destino nas mãos da divindade Terra (e enquanto isso, poluo, ignoro, mato, infecto). Tenho pensado no paradoxo desta ideia, defendida, em muitos casos por pessoas que elas próprias professam uma religião que tem em conta aspectos como a culpa, o pecado, a boa acção, a confissão e a penitência. Para os defensores deste argumento - a Terra como "deus soberano" - seríamos finalmente fiéis livres da possibilidade de pecar. Uma duplicidade bastante conveniente, diga-se. A um deus entregamos a nossa culpa e a nossas precauções, ao outro o poder e a omnisciência de não considerar sequer as nossas acções como consequentes. Uma duplicidade ainda quase tão conveniente quanto determinar liminarmente que esta pandemia é só um percalço temporário ou, antes, que é o início do fim.</span></span></p><div class="l9j0dhe7" id="jsc_c_rd" style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; position: relative;"><div class="l9j0dhe7" style="font-family: inherit; position: relative;"><div style="font-family: inherit;"><div class="b3i9ofy5 l9j0dhe7" style="background-color: var(--comment-background); font-family: inherit; position: relative;"><div class="j83agx80 soycq5t1 ni8dbmo4 stjgntxs l9j0dhe7" style="display: flex; font-family: inherit; line-height: 0; overflow: hidden; position: relative;"><a class="oajrlxb2 g5ia77u1 qu0x051f esr5mh6w e9989ue4 r7d6kgcz rq0escxv nhd2j8a9 nc684nl6 p7hjln8o kvgmc6g5 cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x jb3vyjys rz4wbd8a qt6c0cv9 a8nywdso i1ao9s8h esuyzwwr f1sip0of lzcic4wl gmql0nx0 gpro0wi8 datstx6m k4urcfbm" href="https://l.facebook.com/l.php?u=https%3A%2F%2Fwww.franceculture.fr%2Fenvironnement%2Fdu-covid-a-lecologie-le-confinement-est-definitif-alerte-le-penseur-bruno-latour%3Ffbclid%3DIwAR2pG7VKtvh-o4qU2goyVDhMADZhosjCPH4NJ7kerFnfidPs5tW2cFoJN8E&h=AT3iqk61LrqBzGNv-4CuoAk8faWObNMLZ79zk3fBy8yc3cU7-VIM8jz5Jv4Gp0552n4SCcAIQF1pP8PFTV7BB-V0SNgG3-BAuL1otVj0VsPdQxylVyLWxf0sqNg05u3MWQ&__tn__=H-R&c[0]=AT1PC5MQMPy1oRxK2Jwc_RYSm8HRSY_ohRuxI4o1faXnUgYTm1fpzYSXjKGHZ6Bw4avAERtrMdTJONTeaSJ2qy7bQ_MYVBtY-fQziIosHxDbTZifJHJLunqMuMhvnZ435SUBTeTAl1LCzvymsH2nGTBzhY0" rel="nofollow noopener" role="link" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; background-color: transparent; border-color: initial; border-style: initial; border-width: 0px; box-sizing: border-box; cursor: pointer; display: inline; font-family: inherit; height: 261px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: inherit; text-decoration-line: none; touch-action: manipulation; width: 500px;" tabindex="0" target="_blank"><div class="bp9cbjyn cwj9ozl2 j83agx80 cbu4d94t ni8dbmo4 stjgntxs l9j0dhe7 k4urcfbm" style="align-items: center; background-color: var(--card-background); display: flex; flex-direction: column; font-family: inherit; overflow: hidden; position: relative; width: 500px;"><div style="font-family: inherit; max-width: 100%; min-width: 500px; width: calc((100vh + -325px) * 1.91571);"><div class="do00u71z ni8dbmo4 stjgntxs l9j0dhe7" style="font-family: inherit; height: 0px; overflow: hidden; padding-top: 261px; position: relative; text-align: justify;"></div></div></div></a></div></div></div></div></div>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-1892468576963563652020-12-27T12:32:00.004+00:002020-12-27T12:32:38.912+00:007 bons vídeo ensaios de 2020 / Poll Sight & Sound<p><span style="font-size: large;"><a href="https://www.bfi.org.uk/best-video-essays-2020?fbclid=IwAR1amFqFHvO84nZaPxs2IA8gKqtzpu5K741qlsSpg8AqSWzVhnvb9dzfdyU#carlos-natalio" target="_blank">Once Upon a Screen: Explosive Paradox</a></span></p><p><span style="font-size: large;"><a href="https://www.bfi.org.uk/best-video-essays-2020?fbclid=IwAR1amFqFHvO84nZaPxs2IA8gKqtzpu5K741qlsSpg8AqSWzVhnvb9dzfdyU#carlos-natalio" target="_blank">Kevin B. Lee</a></span></p><p><span style="font-size: large;"><a href="https://www.bfi.org.uk/best-video-essays-2020?fbclid=IwAR1amFqFHvO84nZaPxs2IA8gKqtzpu5K741qlsSpg8AqSWzVhnvb9dzfdyU#carlos-natalio" target="_blank">Forensickness</a></span></p><p><span style="font-size: large;"><a href="https://www.bfi.org.uk/best-video-essays-2020?fbclid=IwAR1amFqFHvO84nZaPxs2IA8gKqtzpu5K741qlsSpg8AqSWzVhnvb9dzfdyU#carlos-natalio" target="_blank">Chloé Galibert-Laîné</a></span></p><p><span style="font-size: large;"><a href="https://www.bfi.org.uk/best-video-essays-2020?fbclid=IwAR1amFqFHvO84nZaPxs2IA8gKqtzpu5K741qlsSpg8AqSWzVhnvb9dzfdyU#carlos-natalio" target="_blank">Some Visual Thoughts About Perceptions in Rebecca</a></span></p><p><span style="font-size: large;"><a href="https://www.bfi.org.uk/best-video-essays-2020?fbclid=IwAR1amFqFHvO84nZaPxs2IA8gKqtzpu5K741qlsSpg8AqSWzVhnvb9dzfdyU#carlos-natalio" target="_blank">Ricardo Vieira Lisboa</a></span></p><p><span style="font-size: large;"><a href="https://www.bfi.org.uk/best-video-essays-2020?fbclid=IwAR1amFqFHvO84nZaPxs2IA8gKqtzpu5K741qlsSpg8AqSWzVhnvb9dzfdyU#carlos-natalio" target="_blank">In Memoriam</a></span></p><p><span style="font-size: large;"><a href="https://www.bfi.org.uk/best-video-essays-2020?fbclid=IwAR1amFqFHvO84nZaPxs2IA8gKqtzpu5K741qlsSpg8AqSWzVhnvb9dzfdyU#carlos-natalio" target="_blank">Lucía Alonso Santos</a></span></p><p><span style="font-size: large;"><a href="https://www.bfi.org.uk/best-video-essays-2020?fbclid=IwAR1amFqFHvO84nZaPxs2IA8gKqtzpu5K741qlsSpg8AqSWzVhnvb9dzfdyU#carlos-natalio" target="_blank">L’Assassinat Kennedy au cinéma</a></span></p><p><span style="font-size: large;"><a href="https://www.bfi.org.uk/best-video-essays-2020?fbclid=IwAR1amFqFHvO84nZaPxs2IA8gKqtzpu5K741qlsSpg8AqSWzVhnvb9dzfdyU#carlos-natalio" target="_blank">Luc Lagier</a></span></p><p><span style="font-size: large;"><a href="https://www.bfi.org.uk/best-video-essays-2020?fbclid=IwAR1amFqFHvO84nZaPxs2IA8gKqtzpu5K741qlsSpg8AqSWzVhnvb9dzfdyU#carlos-natalio" target="_blank">Notorious Wavelengths</a></span></p><p><span style="font-size: large;"><a href="https://www.bfi.org.uk/best-video-essays-2020?fbclid=IwAR1amFqFHvO84nZaPxs2IA8gKqtzpu5K741qlsSpg8AqSWzVhnvb9dzfdyU#carlos-natalio" target="_blank">Ian Magor</a></span></p><p><span style="font-size: large;"><a href="https://www.bfi.org.uk/best-video-essays-2020?fbclid=IwAR1amFqFHvO84nZaPxs2IA8gKqtzpu5K741qlsSpg8AqSWzVhnvb9dzfdyU#carlos-natalio" target="_blank">Shadows of Our Forgotten Montages</a></span></p><p><span style="font-size: large;"><a href="https://www.bfi.org.uk/best-video-essays-2020?fbclid=IwAR1amFqFHvO84nZaPxs2IA8gKqtzpu5K741qlsSpg8AqSWzVhnvb9dzfdyU#carlos-natalio" target="_blank">Dianela Torres</a></span></p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiafKsTyY0uz9gqSHYuwcK48_xhQ2Hi3LxfiDawW95aUOObs18JMoRw90MqvClparbvrGq6tW0HwWJ0CgZ6o7MjbZAZXWko3zY6Eoy-7tBfvhCyKaZ7_6wmdJyCRYiHkXY8vKHdvLG5EmI/s1504/once-upon-a-screen-explosive-paradox-2020-kevin-b-lee-in-mask.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="846" data-original-width="1504" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiafKsTyY0uz9gqSHYuwcK48_xhQ2Hi3LxfiDawW95aUOObs18JMoRw90MqvClparbvrGq6tW0HwWJ0CgZ6o7MjbZAZXWko3zY6Eoy-7tBfvhCyKaZ7_6wmdJyCRYiHkXY8vKHdvLG5EmI/w640-h360/once-upon-a-screen-explosive-paradox-2020-kevin-b-lee-in-mask.png" width="640" /></a></div><br /><p><br /></p>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-15802867827460285262020-12-20T19:16:00.011+00:002020-12-20T23:02:58.703+00:00Ser chamado<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj28ydlu6xASXCoNgWc5aJET63Tu4xdofW4F5t61_20CV7nEAdDH69hjh2uYv7D1Y0r7X2gTVVoTAB2-E6ZNYtezXUr2EWfv-qQi2koPRM_NcJrzG_jQpUBXFehPv_Akq4iWd4YvJyrhAo/s368/critique-l-heroique-parade-reed6.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="276" data-original-width="368" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj28ydlu6xASXCoNgWc5aJET63Tu4xdofW4F5t61_20CV7nEAdDH69hjh2uYv7D1Y0r7X2gTVVoTAB2-E6ZNYtezXUr2EWfv-qQi2koPRM_NcJrzG_jQpUBXFehPv_Akq4iWd4YvJyrhAo/w640-h480/critique-l-heroique-parade-reed6.jpg" width="640" /></a></div><br /><span style="font-size: large;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">O filme "The Way Ahead" de Carol Reed começa com o recrutamento de uns quantos civis para o exército. A 2ª Guerra Mundial chamará por eles. Veremos momentos de treino, o conflito nunca mais chega como em Buzatti e Zurlini, mas Reed parece preferir filmar a amizade entre os homens, a forma como superiores passam a amigos, as despedidas no cais, as mulheres em espera, o patrão, o subserviente. O gozo, depois o medo, depois o orgulho no exército, numa família à qual passam a pertencer. Exagero. Fiquei um tanto à margem do filme, talvez porque nunca fui chamado a cumprir serviço militar. Quando chegou a altura estava na universidade e mais tarde passei à reserva. Penso nesse corte na vida que implica um chamamento. Tive chamamentos internos, suaves - o amor, o mestre, de certa maneira, a espiritualidade chama-me de tempos em tempos. Mas nunca de forma tão brutal nem tão cruel como quando nem sabem o teu nome e chamam por ti. Partem a tua vida ao meio e pegam-te por um braço e papéis (há sempre papéis a comprovar a justeza daquilo) e dizem-te "vem por aqui". E tu vais, que remédio, estavas entretido a planear a vida, a conceber sonhos, a arrancar musgo dos muros dos obstáculos e subitamente és chamado à maquina de matar. Ser chamado à guerra é, de repente, acordares e passares a ter de lutar pela vida. Como quando se tem fome, quando quando a fome, implacável, chama por ti e pela tua vida. Nunca passei fome, tenho muita sorte. Limito-me a imaginar, a falar do que não sei. Mas, na verdade, nunca sabemos de nada. Continuamos, imbecis, sempre a falar e a escrever como tagarelas da ignorância. Ter fome também é ser chamado a lutar pela vida. Estás metido no meio das tuas ilusões, dos teus cósmicos planos e, subitamente, aparece sem avisar esse buraco interior e tens de largar tudo o que estás a fazer - planos, moral, boas intenções - e lutas pela sobrevivência. A tua, a dos teus. Afortunados são aqueles que não são interrompidos, que seguem o caminho, que roncam do nariz e não do estômago. Ser chamado pela nossa fome, imagino, deve ser o mais devastador dos chamamentos. </span></p>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-31551999678085950412020-12-19T01:28:00.003+00:002020-12-19T01:31:07.423+00:00Chegar a tempo<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxaDkIXxFFguAgb5q6APf76yqfq_B7pUH5XYbQ-txOnDQ4XnC04gLrhRUYdj_wyXhHiuiAKVh_ZS-zdCEkGaqpCt2o-k-sUrxJDdfcLMTtGTZPiWptNFr3ap8qWU3aWazvx6vrwb-8BzA/s1439/Sem+T%25C3%25ADtulo.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1077" data-original-width="1439" height="478" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxaDkIXxFFguAgb5q6APf76yqfq_B7pUH5XYbQ-txOnDQ4XnC04gLrhRUYdj_wyXhHiuiAKVh_ZS-zdCEkGaqpCt2o-k-sUrxJDdfcLMTtGTZPiWptNFr3ap8qWU3aWazvx6vrwb-8BzA/w640-h478/Sem+T%25C3%25ADtulo.png" width="640" /></a></div><br /><span style="font-size: large;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Sempre admirei as pessoas que conjugam o seu dia como um complexo calendário que depois cumprem à justa, ajustando os minutos, cortando a gordura dos atrasos ou das esperas. Invejo a capacidade de aproveitar o tempo, mas nunca me julguei capaz de o fazer. Porquê? Pelo motivo tão simples que fico bastante nervoso quando estou na iminência de chegar atrasado a um sítio. Nesses momentos sou o Hitchcock na presença de um polícia, medo de me apanharem em falso, receio de falhar. O resultado é que, sempre que posso (e cada vez menos o posso) acabo por chegar com antecedência aos meus compromissos. E fico ali naqueles minutos, antes de tudo começar, nessa espécie de segurança, a respirar fundo, inspirando bem esse tempo vazio. Talvez por isso, sempre achei horrível chegar atrasado aos filmes no cinema. Ou chegar atrasado aos filmes em casa, como quando alguém fala connosco nos primeiros minutos e perdemos a abertura. Invariavelmente, tenho de puxar atrás e começar novamente, pontual ao compromisso. Deposita-se muita energia nos cinco minutos finais dos filmes, mas é nos primeiros cinco que toda a aventura começa. Nessa pura potencialidade do desconhecido, vive-se o máximo da liberdade. E é preciso chegar à liberdade a tempo.</span></p><div style="text-align: justify;"><br /></div>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-60854152143619800012020-12-05T18:03:00.005+00:002020-12-05T18:03:41.872+00:00Técnicas de confinamento<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Na noite passada não acordei com um beijo. Acordei sim, como é habitual, com aqueles pensamentos afiados que rasgam a consciência. Normalmente é algo que me atormenta, coisa que tenho de fazer, um problema sem solução. Desta vez foi um remorso. Lembrei um amigo. Não tão próximo, não demasiado distante. Remorso pelo tempo em que o mantive à distância - não é assim que se diz por aqui no facebook - cansado que estava da sua verborreia e de opiniões que considerava destrutivas e disparatadas. Pensei nisso, mas logo o remorso trouxe agarrado a ele uma memória. Eu conheci esta pessoa antes das redes sociais, ainda adolescente. E lembro como nas tardes e nas noites os seus amigos - nós - fazíamos dele o alvo das nossas piadas, das nossas críticas; ele era muitas vezes o bombo da festa. Não fazíamos isso por mal, mas éramos cruéis. Mas seríamos tão cruéis como a opção "bloquear" um amigo? Dei por mim a recordar como era a amizade antes das redes sociais, antes do Facebook - parece que passaram milénios - quando só havia mesas e não murais virtuais, quando olhar nos olhos era mais importante do que o reply. Deixei-me dominar pela nostalgia de um tempo em que a amizade não estava confinada a um aquário social, a uma jaula onde em círculos vagueiam solitárias opiniões sem rosto. Tudo hoje vem desaguar no nosso mural. E pensei ainda, momentos antes de readormecer, como começou tão antes o nosso confinamento. Um afunilamento da afecção que surge de forma tão subtil porque perversa e tão perversa porque subtil. Acho que o último pensamento que tive antes de voltar ao sono foi como tudo isto dava um post de facebook. Se isto não é estar formatado para pensar dentro da caixa, o que será? Mas por momentos lembrei como era o "fora" dessa caixa. Havia outras prisões, evidente, mas ninguém nos tirava a beleza dos disparates em palavras ditas no rosto uns dos outros. Vou reaproximar o meu amigo, saudades de discordar dele.</span></p><div style="text-align: justify;"><br /></div>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-71597702526264984242020-11-29T19:25:00.001+00:002020-11-29T19:25:21.130+00:00<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: times; font-size: large;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: times; font-size: large;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx9-eYjue2CnseWuNb2UJLPWd5vpcTi-XsNB8hDBOAw3t-JW71HyAYwqhbAfnVMCadn40qWg1eMr3VbRRk51PhIzOZsvmHxbzj7oBsGC1_YpMfnJeDwb31gN9FIhBBZjdJNHYV9AxvQhg/s2048/1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1491" data-original-width="2048" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx9-eYjue2CnseWuNb2UJLPWd5vpcTi-XsNB8hDBOAw3t-JW71HyAYwqhbAfnVMCadn40qWg1eMr3VbRRk51PhIzOZsvmHxbzj7oBsGC1_YpMfnJeDwb31gN9FIhBBZjdJNHYV9AxvQhg/s320/1.jpg" width="320" /></a></span></div><span style="font-family: times; font-size: large;"><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-qFVFUxDTk8WLt5KenuHbzYjF5yCxutiJ-A3m3kSKD5NgojfpUDxcZz0HdiZsVapsjl4pKHUHj84vtGTN6z87FJ4qZ6Zbb_vwmetvTNgBZxC3Yyg7_j9k1hvMkxTNVtveEbY4MTUnRUo/s2048/2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1493" data-original-width="2048" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-qFVFUxDTk8WLt5KenuHbzYjF5yCxutiJ-A3m3kSKD5NgojfpUDxcZz0HdiZsVapsjl4pKHUHj84vtGTN6z87FJ4qZ6Zbb_vwmetvTNgBZxC3Yyg7_j9k1hvMkxTNVtveEbY4MTUnRUo/s320/2.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-9cFTDSIPF1ZRwML5ACZPdBcEnC09ug4yuy1jqDUNLJ8GilqCtCDZdzswkRiP_YUa-XHMx_c9J5PltBXoZRW-7bm6hwqC1x7aIx-a4HKNDnbretybITgBVlcp3LpzJ-lbnb9pTbeRt4M/s2048/3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1503" data-original-width="2048" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-9cFTDSIPF1ZRwML5ACZPdBcEnC09ug4yuy1jqDUNLJ8GilqCtCDZdzswkRiP_YUa-XHMx_c9J5PltBXoZRW-7bm6hwqC1x7aIx-a4HKNDnbretybITgBVlcp3LpzJ-lbnb9pTbeRt4M/s320/3.jpg" width="320" /></a></div><br /> Num fim-de-semana em que uma vez mais nos vemos confinados, vem-me à lembrança aquela cena que deveio lugar comum no cinema clássico. Antes de um momento de perigo, a esposa/namorada/amante/amiga diz ao seu parceiro que quer ir com ele. Ao que este responde: "No, you stay here". E ele vai e ela fica. E em muitas ocasiões fecha-lhe mesmo a porta da casa à chave para que não possa vir com ele. Sob uma pretensa ideia de protecção, o cinema mostrou como as mulheres sabem, infelizmente, demasiado sobre confinamentos compulsivos e como o machismo é, ele próprio, um confinamento mental.</span><p></p><div style="text-align: justify;"><br /></div>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-88362369764114860102020-11-20T11:21:00.006+00:002020-11-20T11:22:29.897+00:00Let’s get physical: contra o fim dos suportes físicos, a favor da liberdade do espectador<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: times; font-size: large;"><a href="http://www.apaladewalsh.com/2020/11/lets-get-physical-contra-o-fim-dos-suportes-fisicos-a-favor-da-liberdade-do-espectador/" target="_blank"> "<span face=""Droid Sans", sans-serif" style="background-color: white; color: #555555;">Actualmente – e sublinhamos que este é um estado de coisas que esperemos que se possa transformar no futuro – o cinema em</span><em style="background-color: white; color: #555555; margin: 0px; padding: 0px;"> streaming</em><span face=""Droid Sans", sans-serif" style="background-color: white; color: #555555;"> tem sido cooptado por uma destrutiva lógica algorítmica, algo que está nos antípodas desse “fazer memória”, desse “constituir imaginário crítico”. O problema não é tanto o da desmaterialização, mas sim o de uma arquitectura digital sobre a qual está assente a mesma. Uma arquitectura que trata o cinema segundo uma lógica de mercado que assenta numa ideia de consumos quantitativos de bens indistintos, de homogeneização dos produtos, de redução do que é ineficaz, isto é, da capacidade de diferenciar. E isto é oposto da relação que um cinéfilo e crítico quer manter com o cinema e com cada um dos filmes, bons e maus."</span></a></span></p>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-32058868814646651352020-11-17T23:07:00.003+00:002020-11-17T23:07:41.341+00:00Autobiografia Charles Darwin<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"> </span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: large;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwubIphYDpcTzSoP3fPsYcWVY3QGopd8HGDCTwpGPLgJ52FB1Q2gQLrNTsTqjzNS-ei-mtI39dGAqp_p9NMSfNJwOlXLmdZf9yD7SZT4Ol5lROI1UpAmYF9d4ZrzsMzgULCFrPJwFiCkY/s475/27826421._SY475_.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="475" data-original-width="316" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwubIphYDpcTzSoP3fPsYcWVY3QGopd8HGDCTwpGPLgJ52FB1Q2gQLrNTsTqjzNS-ei-mtI39dGAqp_p9NMSfNJwOlXLmdZf9yD7SZT4Ol5lROI1UpAmYF9d4ZrzsMzgULCFrPJwFiCkY/w426-h640/27826421._SY475_.jpg" width="426" /></a></span></div><span style="font-size: large;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Darwin escreve sobre a sua própria vida. Não é surpreendente que o livro seja pouco apelativo. O próprio refere que pouco haveria para contar sobre ela, a não ser o seu trabalho científico, os seus livros. E que isso o ajudou a escudar-se das suas doenças. Além disso há essa mente bastante organizada, metódica, que tendo a lucidez de perceber que a falta de música e de poesia no seu quotidiano, o empobreceu emocionalmente, lhe fez perder algo da felicidade. Darwin exprime-se de forma clara e seca, pouco poética, objectiva. Mas é ao mesmo tempo um ser excepcional, à frente do seu tempo, equivalendo o inculcar na mente das crianças da crença na existência de um Deus ao medo instintivo que os macacos têm de cobras; mas também falando de si com humildade, destacando apenas a sua capacidade de observação e curiosidade; escrevendo ainda que a obtenção do amor dos que nos rodeiam é a maior felicidade que se pode ter na terra. E dizia-se, diante do elogio ou da crítica: “o meu maior conforto foi dizer centenas de vezes para comigo que trabalhei o mais e melhor do que pude, e ninguém pode fazer mais do que isto.”.</span></p>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-40622881347318167672020-11-17T22:00:00.001+00:002020-11-17T22:00:04.582+00:00Pastoralia<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgri2HtBfBBbrAJLvUVxtKuIq1FBfA38nrdT540KrNbaJHo_U3WUx68zy3lFr70fXCuvDFAFjwA5AKyWnu-hrQ_vFR_IslaB1fK_Edp7ldDFj-eq6p-fEYcLteUlAOpD-W7P49Xbb35eq4/s672/Sem+T%25C3%25ADtulo.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-size: large;"><img border="0" data-original-height="672" data-original-width="428" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgri2HtBfBBbrAJLvUVxtKuIq1FBfA38nrdT540KrNbaJHo_U3WUx68zy3lFr70fXCuvDFAFjwA5AKyWnu-hrQ_vFR_IslaB1fK_Edp7ldDFj-eq6p-fEYcLteUlAOpD-W7P49Xbb35eq4/w408-h640/Sem+T%25C3%25ADtulo.png" width="408" /></span></a></div><br /><span style="font-size: large;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Rogério Casanova diz no prefácio à colectânea de contos "Pastoralia" que o mundo de George Saunders é aquele em que "alguém é convidado a desempenhar um papel cuja única utilidade é evitar que outra pessoa desempenhe um papel cuja única utilidade é reagir ao papel inútil previamente desempenhado, etc., etc.," Este mise-en-abyme espelha bem esta espécie de canibalização distópica em que já não sabemos bem qual o espaço do altruísmo, mas também o do canalhice. O homem com peso na consciência é já um artefacto das cavernas. Ou nem tanto, pois Saunders carrega a sua escrita de um humor negro, de uma observação implacável da superficialidade, da decadência do quotidiano pelo marketing e pelo televisivo, mas, no final de contas, há uma resta de humanidade que sobra das personagens. Uma possibilidade de amor, um continuar a ajudar quem nos caga nas papas de aveia, uma hipótese de futuro além de mostrar a pila num buraco suburbano. E, ao contrário, o pensamento pode conter caminhos autónomos e ferozes que nos apartam da realidade. Como leitor senti-me sempre entre o sórdido e o puro, entre o riso irónico e a empatia que apenas temos para com as personagens que amamos. Aquelas que aceitam toda a merda com um sorriso nos lábios. Que antes de se desfazerem, procuram indicar a saída aos que cá ficam. </span></p>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-30132066128521838242020-10-15T14:30:00.006+01:002020-10-15T14:30:29.559+01:00Quem quer dormir mais ainda?<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Tenho alguns amigos e outros conhecidos da área do cinema que muito estimo e respeito que crêem a eminente alteração do cinema como “oportunidade histórica” em prol da “diversidade” do cinema português. Claro que sabemos bem – e não há mal nisso – que, neste caso, a palavra diversidade é um valor que esconde a verdadeira razão das escolhas de cada um: neste caso uma alteração que lhes permitirá arranjar mais trabalho, obter mais rendimentos. Nada contra, é legítimo, mas é só para que se perceba. O que creio que estes meus amigos deviam ter consciência é que a tarefa de fazer um cinema comercial de qualidade (como sei que muitos ambicionam) é uma ambição que implica não compreender suficientemente a lógica de funcionamento dos canais de televisão e serviços de streaming que subjazem a estes investimentos. Basta abrir ao acaso um canal português a meio de uma tarde ou noite – com os seus talk shows anódinos, telenovelas intermináveis, comentários de futebol sem nada para comentar, música pimba, séries de TV que são telenovelas com outros nomes – para perceber que, desde o início da televisão (e agora plataformas como a Netflix, espécie de televisão 2.0), estamos no domínio da indústria dos narcóticos. Por isso, não é de estranhar que o cinema, que sempre foi, mesmo quando para um suposto “grande público”, uma arte do despertar (do espírito, do corpo, da relação com o outro), se tenha insurgido contra o modelo, o formato, a narcolepsia televisiva. O cinema cabe na TV e afins, mas encolhido, espremido de sumo, enlatado. E quando se fala “do que o público gosta”, falamos disso: de um processo cada vez mais vasto de amortecimento do espírito. Claro que, propositadamente, hiperbolizo e extremo o panorama. Sabemos como a Netflix, a HBO ou outras plataformas têm pontualmente produzido filmes/séries de alguma qualidade. Mas isso não deve afastar da nossa mente o panorama geral e é do panorama geral que temos de criar distância. Porque se pensarmos em tréguas bem-intencionadas com essas plataformas, com esse mesmo grande público que, como dizia o João Botelho “confunde as piadas com os filmes” ou a “narrativa clássica e causal com o cinema”, então… quando acordarmos só haverá panorama geral. E desse panorama geral fazem parte ideias tão horríveis e díspares como “Manoel de Oliveira é um cineasta entediante”; “um filme a preto e branco… que horror”; “mas não se passa nada neste filme”. Esta alteração da lei o que permite é, tão só, uma crescente (e perdoem-me o neologismo) “televicização do cinema”. Quando o que deveríamos todos procurar é o oposto: uma progressiva cinematização da televisão e do audiovisual. Porque esta luta não é uma guerra de conteúdos, nem de visões do mundo. É uma luta entre o adormecer e o acordar. E quem quer dormir mais ainda?</span></p><div style="text-align: justify;"><br /></div>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-7690674980975581162020-09-14T22:36:00.004+01:002020-09-14T22:36:57.670+01:00Climbing High, de Carol Reed<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"> <span style="text-align: justify;"> </span><span color="var(--primary-text)" style="text-align: justify; white-space: pre-wrap;">Se "Bank Holiday" não é "The Lady Vanishes" também "Climbing High" não é "Bringing Up Baby". E nunca saímos do mesmo ano nestes quatro filmes: 1938. Carol Reed num mundo paralelo seria o genial realizador de comédias, com este "Climbing High" como tubo de ensaio, screwball comedy em termos bastante british. O milionário - um Michael Redgrave com apenas trinta anos - atropela a pobre rapariga (Jessie Matthews) e quer conquistá-la, escondendo nome e estatuto. Mas a Viena de "The Third Man" ou a Belfast de "Odd Man Out" - ambas embrionárias e a uma década de distância - fazem-se prever numa espécie de caos revolucionário que desconcerta completamente a screwball. E não é apenas o companheiro de casa da rapariga, o "magnificently revolting" Alastair Sim, marxista intelectual, que pede desculpa a Lenine por o ter traído e arranjado trabalho como modelo fotográfico, envergando uma pele de homem das cavernas. São as sequências da ventoinha descontrolada que varre todo o estúdio num genial momento slapstick. Ou ainda a personagem do louco que obriga toda a gente a cantar, com os coelhinhos no cimo do monte a ouvir e a dar às orelhas em coreografia. A desordem entra na comédia romântica para a romper por dentro e deixa de facto uma vontade de ver mais de um Reed em modo tresloucado. Não tinham passado muitos anos desde "Monkey Business" (1931), "Duck Soup" (1933), "A Night at the Opera" (1935) ou "A Day At the Races" (1937)</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span color="var(--primary-text)" style="text-align: justify; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: large;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT-GsOP_2-q6TpInwD3KD_8V8A6gCkR-BSlllnI2C0GZkkOgq7idlXtpGDrVuqpZ-Dx85sqGhVyy5Wdv4Vok29gTm-pYcD85KyzW4ieSeiaq7DkynUUzCAhuad7IDyq1nCkwJbwXbDw3s/s2048/119154831_10220941770746544_4296732995188327402_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1578" data-original-width="2048" height="483" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT-GsOP_2-q6TpInwD3KD_8V8A6gCkR-BSlllnI2C0GZkkOgq7idlXtpGDrVuqpZ-Dx85sqGhVyy5Wdv4Vok29gTm-pYcD85KyzW4ieSeiaq7DkynUUzCAhuad7IDyq1nCkwJbwXbDw3s/w625-h483/119154831_10220941770746544_4296732995188327402_o.jpg" width="625" /></a></span></div><span style="font-size: large;"><br /><span color="var(--primary-text)" style="text-align: justify; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span color="var(--primary-text)" style="text-align: justify; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></p>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-61592763735163506152020-09-14T20:04:00.002+01:002020-09-14T20:04:31.464+01:00"Bank Holiday" de Carol Reed<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"> </span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: large;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisrr97t_pZduXuFxxGEoi4P72lp-BBIHgbDHJAuyj-uCxiFH7nCLwrpjj_A0lVux55XGkXnDpqXErpg4lTKJhMzoXMh-kVbeOFR_lIyHHj0vKn6iHQTsx8DS4-Byt2rfINmNeI6su7ixU/s1600/BankHolidaystill.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1362" data-original-width="1600" height="425" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisrr97t_pZduXuFxxGEoi4P72lp-BBIHgbDHJAuyj-uCxiFH7nCLwrpjj_A0lVux55XGkXnDpqXErpg4lTKJhMzoXMh-kVbeOFR_lIyHHj0vKn6iHQTsx8DS4-Byt2rfINmNeI6su7ixU/w500-h425/BankHolidaystill.jpg" width="500" /></a></span></div><span style="font-size: large;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span color="var(--primary-text)" style="font-family: inherit; white-space: pre-wrap;">Não é do calibre do "The Lady Vanishes" do mesmo ano, 1938, mas Margaret Lockwood ajuda a dar mais consistência a "Bank Holiday". O filme de Carol Reed anda ali sempre entre o retrato social irónico das classes sociais que se mesclam num dos britânicos feriados de Verão e um esboço de triângulo amoroso entre um homem que acaba de perder a sua esposa, a enfermeira e o noivo desta. O olhar de Lockwood vai fazendo essa passagem lenta entre a piedade face ao familiar da mulher falecida, o lento desabrochar de um amor e sobretudo esse sentimento de culpa misturado com tristeza quando percebemos que não conseguimos corresponder a uma pessoa que nos ama. O contraste entre o fim-de-semana da alegria geral e da angústia particular poderia ir mais longe. Bem como a forma como Reed encena a assombração: o viúvo que revê a mulher, já depois de morta, a partir num eléctrico no dia em que a reencontrou, a "telepatia" nas águas debaixo de uma ponte entre Lockwood e John Lodge. Tema sólido, mise-en-scène que trabalha na leveza. Mas depois há que fechar tudo apressadamente e o "the end" vem tornar banal o que antes fora, por umas horas de feriado (e por uma hora de filme), extraordinário e encantatório.</span></span></p>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-42211172725097827982020-08-24T12:08:00.003+01:002020-08-24T12:08:24.163+01:00A família<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;"> Costuma dizer-se que o cinema e as suas personagens são a família de substituição dos cinéfilos. Não venho discordar, apenas acrescentar. Acordei a pensar nos amigos que ao longo dos anos fiz por causa do cinema. Nessas pessoas que estão perto, muitas vezes fisicamente longe, e que vejo sem ver praticamente todos os dias. Uma imagem, uma reflexão, um pedaço de insight ou memorabilia que faz unir, discutir, abrir o território do pensamento e do sonho. Pensei nisto esta manhã pois tentei imaginar a minha vida sem estas pessoas. Não consegui. Para um cinéfilo, os outros cinéfilos com quem partilha o seu olhar são a sua família. Não uma de substituição, mas uma que acrescenta e invade aquela com que nasceu. Mesmo quando discordamos muito, sinto que seguimos sempre no mesmo barco. Levados pela mesma onda de crença num cinema que transforma, que levanta do chão. Sinto que estamos juntos e que não há solidão, nem distanciamento social (ou lugar-sim-lugar-não numa sala de cinema) que abale isso. Aos membros da minha família do cinema o meu amor, a minha dedicação.</span></p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-42734707094898714852020-08-21T09:54:00.001+01:002020-08-21T09:54:14.232+01:00Tchekhov e a ilusão<p style="text-align: justify;"> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqxpNhPJDOMEwcTvzgmT4WEk_6_APXG3QgavPcusrUGBarcjmG8luJY6BC5wN5hBL2J7fCBHvWBlXbe16fsqfwZ1yUWJbhexmRwGar3fYACMBYRYGtK2Y53CUBttRk3OpdgIyNoitTYBA/s1800/cherry.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1800" data-original-width="1252" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqxpNhPJDOMEwcTvzgmT4WEk_6_APXG3QgavPcusrUGBarcjmG8luJY6BC5wN5hBL2J7fCBHvWBlXbe16fsqfwZ1yUWJbhexmRwGar3fYACMBYRYGtK2Y53CUBttRk3OpdgIyNoitTYBA/s640/cherry.jpg" /></a></div><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;">Abusador e sem muita relevância a tarefa de procurar uma só palavra que seja o fio que lace as quatro peças mais conhecidas de Anton Tchekhov, "A Gaivota" (1896), "Tio Vânia" (1899-1900), "As Três Irmãs" (1901) e "O Ginjal" (1904). Vem-me à cabeça a palavra ilusão (perdida) - são duas palavras, afinal - e com elas os ideais da escrita e da arte de Tréplev desfeitos a tiro; a juventude desaproveitada, a vida não vivida do tio Vânia; as três irmãs iludidas sobre a vida fora da sua propriedade, na grande Moscovo e no amor verdadeiro; e, finalmente, Andréevna, iludida sobre a manutenção de um passado ligado a uma juventude e ao ginjal. Também à manutenção de uma ilusão de classe que deixará de o ser, antes que venham os veraneantes e os comerciantes cortar as árvores, desfazer a mística do verdadeiro ennui. "As Três Irmãs" e "O Ginjal" funcionam como uma espécie de inverso, parece-me, sendo que na primeiro as personagens querem sair do espaço rural e na segunda querem a todo o custo ficar. Curioso que entre o partir e o ficar, a comédia destas peças tem também a ver com a bipolaridade do tédio: ora maravilhando ora angustiando sobre o presente insatisfeito, o tanto que não se conseguiu, ou o tanto que já não volta. Não é por acaso que quase todas as peças tem um momento de elogio do trabalho, por contraposição a uma devassidão, a uma mediania, a uma pobreza de espírito na Rússia da época. Em Tchekhov há sempre um idealista, que verbaliza um futuro melhor, liberto destes tédios rurais, mas ele, como os demais, também acaba meio perdido ou, pelo menos, a caminho de parte incerta. E de galochas rotas! Mas livre! Com ironia, entenda-se... Resta saber se esta queda da ilusão é para o autor russo uma forma de pessimismo, ou pura e simplesmente, uma outra forma de encenar o envelhecimento.</span></p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-85423171414419324622020-07-31T08:49:00.000+01:002020-07-31T08:49:24.201+01:00Parceria À pala de Walsh / Estado da Arte<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh85bikYPvnQ-arCgOiQ_jquhGC-TvgSDT8dJ9ke97hJURKw05MZcp2SkafW879whv6dbvsC-g3cGmY7dIygd8NhpX0nWEih_4NRVtDdR-NaRW3I1BLQW8EaEvQPHMqjZUE0nIY0iQtQDA/s470/EA_logotipo_Jenson_wp.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="90" data-original-width="470" height="95" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh85bikYPvnQ-arCgOiQ_jquhGC-TvgSDT8dJ9ke97hJURKw05MZcp2SkafW879whv6dbvsC-g3cGmY7dIygd8NhpX0nWEih_4NRVtDdR-NaRW3I1BLQW8EaEvQPHMqjZUE0nIY0iQtQDA/w500-h95/EA_logotipo_Jenson_wp.jpg" width="500" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;"><a data-original-attrs="{"data-original-href":"http://www.apaladewalsh.com/2020/07/nova-parceria-estado-da-arte/?fbclid=IwAR00mDA18ENRDy-Y8rmowSPDWGSjlx7r25z0zO3xwnrcrDRorcBB2h3ldIU"}" href="#">A partir de Setembro o À pala de Walsh irá colaborar com o Estado da Arte, pertencente ao Estadão, Jornal de São Paulo. O que desejo é que a relação entre os cinéfilos portugueses e brasileiros continue viva e entusiasmante como até agora. Juntos somos mais fortes. Um agradecimento especial ao Miguel Forlin e Jeffis Carvalho pelo interesse nesta parceria e também ao nosso Duarte Mata pelo impulso a este novo projecto.</a></span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-10860476624443834722020-07-31T08:47:00.002+01:002020-07-31T08:47:35.661+01:00Um poeta tem de partir, repartir, repartir-se<div class="_5pbx userContent _3576" data-ft="{"tn":"K"}" data-testid="post_message" id="js_ke" style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; line-height: 1.38; margin-top: 6px;"><p style="margin: 0px 0px 6px; text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;">«As cidades ardem, os campos enlouquecem. Um poeta tem de partir, repartir, repartir-se. Um poeta deve ser uno. O inferno não o deixa.»</span></p><p style="display: inline; margin: 6px 0px 0px;"></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;">(Herberto Helder in "Holanda")</span></div><p></p></div><div class="_3x-2" data-ft="{"tn":"H"}" style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px;"><div data-ft="{"tn":"H"}" style="font-family: inherit;"><div class="mtm" style="font-family: inherit; margin-top: 10px;"><div style="font-family: inherit; position: relative;"><div class="_1ktf" data-ft="{"tn":"E"}" style="font-family: inherit; margin-left: -12px;"><a ajaxify="https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10220559536710932&set=a.1202905665326&type=3&eid=ARCIfzBWz6ZAu0YpicZCwgMA_XY7X_zPd6ZfH_rMGdighmCJnNvzGdNjaBWhr5ACud6y5VDZGzG1a90q&size=707%2C1000&source=72&player_origin=unknown" class="_4-eo _2t9n _50z9" data-ft="{"tn":"E"}" data-ploi="https://scontent.flis5-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-9/116345495_10220559536750933_4430323148756507828_o.jpg?_nc_cat=110&_nc_sid=8024bb&_nc_eui2=AeHSeszw8MGpAlFZ1BkdolhA54ZOKEkyhdnnhk4oSTKF2Q3q0u0aBPd0JrA2viMA_FQ&_nc_ohc=IRxM2KqF7X4AX-v7tF8&_nc_ht=scontent.flis5-1.fna&oh=11bba887c6fb4c219dc821fb0b14799b&oe=5F4A155C" data-plsi="https://scontent.flis5-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-9/s960x960/116345495_10220559536750933_4430323148756507828_o.jpg?_nc_cat=110&_nc_sid=8024bb&_nc_eui2=AeHSeszw8MGpAlFZ1BkdolhA54ZOKEkyhdnnhk4oSTKF2Q3q0u0aBPd0JrA2viMA_FQ&_nc_ohc=IRxM2KqF7X4AX-v7tF8&_nc_ht=scontent.flis5-1.fna&_nc_tp=7&oh=1722e901a5216eeb8a066408fe2e6c43&oe=5F4A479A" data-render-location="timeline" href="https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10220559536710932&set=a.1202905665326&type=3&eid=ARCIfzBWz6ZAu0YpicZCwgMA_XY7X_zPd6ZfH_rMGdighmCJnNvzGdNjaBWhr5ACud6y5VDZGzG1a90q" rel="theater" style="box-shadow: rgba(0, 0, 0, 0.05) 0px 1px 1px; color: #385898; cursor: pointer; display: block; font-family: inherit; position: relative; text-decoration-line: none; width: 514px;"></a></div></div></div></div></div>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3699667746632686672.post-82865244127870830352020-07-30T08:52:00.001+01:002020-07-30T08:52:24.701+01:00"O que arde" - Oliver Laxe<div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLP9tZLBLLT_VgWqAsqul4k8_kigK5s2RZZbP0eSdth9GzKNNBuMoRNqQVbufsCnpTp3X0lZnOx247rQeeVxBIbvfR1E-8JALdZAEG2D_ssmeVUtvYIlMjAGfipmYl5VdB-gllyWzNRNk/s800/747312.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="555" height="781" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLP9tZLBLLT_VgWqAsqul4k8_kigK5s2RZZbP0eSdth9GzKNNBuMoRNqQVbufsCnpTp3X0lZnOx247rQeeVxBIbvfR1E-8JALdZAEG2D_ssmeVUtvYIlMjAGfipmYl5VdB-gllyWzNRNk/w544-h781/747312.jpg" width="544" /></a></div><span style="font-size: x-large;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;"><a data-original-attrs="{"data-original-href":"http://www.apaladewalsh.com/2020/07/o-que-arde-quase-tudo/"}" href="#" target="_blank">Se abrirmos sensivelmente a meio esta terceira longa metragem de Oliver Laxe sai de lá de dentro um belo momento de cinema. Amador Arias, que havia regressado a casa, em Lugo na Galiza, por se encontrar em liberdade condicional após ter cumprido dois anos de pena por crime de incêndio florestal, procura integrar-se novamente na comunidade, em especial restabelecendo a relação com a sua mãe, Benedicta. Na cena em concreto, ele vai na carrinha da veterinária da zona, mulher bonita. Ambos transportam uma das vacas dele que tem de ser tratada numa pata. Em campo/contra-campo, os dois falam e sabemos que ele mente sobre o seu passado e que ela empatiza com ele. O ambiente é vagamente romântico: ele é a primeira vez que lhe apetece falar com alguém desde que saiu; ela conta um pouco da forma como chegou a viver no campo. A dado momento, ela coloca uma cassete de música. Ouvimos os primeiros acordes de Suzanne de Leonard Cohen e ela pergunta-lhe se gosta. Ele diz que não entende a letra, mas que simpatiza com a música. Talvez a música sirva melhor a cena do que o realismo das suas personagens. Mas passemos por cima disso. A dada altura, a câmara de Laxe abandona as suas personagens e vem fixar-se no olhar da vaca na carrinha de caixa aberta durante quase um minuto, ficando depois ainda com a paisagem solarenga do campo, após deixar o veículo. Cohen canta: “That you’ve always been her lover / And you want to travel with her / And you want to travel blind / And you know that she will trust you / For you’ve touched her perfect body / With your mind…”</a></span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Carlos Natáliohttp://www.blogger.com/profile/09498582562209674443noreply@blogger.com0