Acredito que quase todas as nossas tristezas são momentos de tensão que consideramos paralizantes porque deixamos de ouvir os sentimentos surpreendidos a viver. Porque nos encontramos sós com uma coisa estranha que entrou no nosso interior; porque tudo o que nos é íntimo e familiar nos foi tirado por instantes; porque ficamos no meio de uma transição onde não podemos permanecer. Por esta razão a tristeza também passa; a coisa nova dentro de nós, aquela que está a mais, entrou no nosso coração, entrou para a parte mais profunda e já lá não está – já está no nosso sangue. E não percebemos o que foi. Facilmente poderíamos acreditar que nada acontecera, e no entanto estamos diferentes, como uma casa fica diferente quando um hóspede entra. Não sabemos dizer quem chegou, talvez nunca o saibamos, mas muitos sinais indicam que o futuro entra em nós desta maneira de forma a transformar-se em nós, muito antes de acontecer. E por isso é tão importante ser solitário e alerta quando estamos tristes; porque o momento aparentemente calmo e silencioso em que o nosso futuro põe um pé dentro de nós está muito mais perto da vida, do que aquele outro ponto no tempo, barulhento e fortuito, que nos acontece como se fosse vindo de fora.»
in CARTAS A UM JOVEM POETA, Rainer Maria Rilke, 1934
Rilke é o meu poeta número 1! Gigante!
ResponderEliminarO Falcão Maltês