No interior da Zona há uma sala com acesso à felicidade. A sala está em
ruínas, o exterior penetra o interior, como é comum no universo Tarkovsky. Uma
vez lá chegados, no final de STALKER,
o professor antecipa os efeitos nefastos da felicidade e quer destruir o acesso
a ela. O poeta, em busca de inspiração, não acredita que aquilo possa ser
verdadeiro e pretende deixar que o professor «destrua» o espaço da felicidade.
Só o guia de ambos, o stalker, fica devastado com a atitude dos dois e não
suporta a ideia de que ninguém acredite em nada. Bem vistas as coisas, a
ciência não suporta a ideia da felicidade poder cair em mãos erradas. Por seu
lado, a arte não sobreviveria na felicidade. Ela ao menos tem de poder não
entrar na sala e refutar a ideia de felicidade, para que possa buscá-la
incessantemente. É o stalker, que vive de explorar a ideia de felicidade dos
outros, que a mercantiliza, só ele percebe que sem aquilo, não há nada a que se
possa recorrer. Que sem a felicidade, a ideia da perfeição do mundo
pós-apocalíptico, religioso, económico, humanista, altruísta, seria
insuportável. Por isso, o stalker não consegue dormir. Por isso, a esposa tem
de lhe deitar um comprimido pela goela abaixo. Por vezes, há sítios, arquitecturas do interior, que para nunca termos de as visitar, temos de as manter intactas, imponentes, numa existência longínqua e duvidosa.
a obra de Tarkovski não é de fácil análise.
ResponderEliminarE o Stalker é dos filmes mais complexos, por esse motivo acho esta sua análise muito interessante.
http://numfilmedegodard.blogspot.com/
Obrigado Daniel.
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