1-Western (2017) de Valeska Grisebach
2-Le livre d’image de Jean-Luc Godard
3-Happî awâ de Ryûsuke Hamaguchi
4-Estiu 1993 (Verão 1993, 2017) de Carla Simón
5-Ramiro (2017) de Manuel Mozos
6-Lazzaro Felice (Feliz Como Lázaro, 2018) de Alice Rohrwacher
7-Dogman (2018) de Matteo Garrone
8-Mandy (2018) de Panos Cosmatos
9-Call Me by Your Name (Chama-me Pelo Teu Nome, 2017) de Luca Guadagnino
10-First Reformed (No Coração da Escuridão, 2018) de Paul Schrader
Muito bem. Antes que o fétido odor a filhoses e coscorões empeste o ar e torne tecnicamente inviável as condições para a prática de visionamento de filmes, assim como da leitura de textos inúteis sobre os mesmos, umas palavras sobre as minhas 10 pílulas de felicidade cinéfila no ano que agora nos finda. No topo o filme da Valeska. Não tanto por aquilo que seria a recriação de um western contemporâneo, mas mais como proposta política, um filme que devia ser mostrado diariamente no Parlamento Europeu até que se parasse de colocar as palavras “crise” e “refugiados” na mesma frase. Depois, o nosso tirésias do cinema, Godard, aqui travestido em Nostradamus. O Livro das Imagens é uma viagem sem fim que começa na voz rouca e testamental do cineasta e que percorre tantos caminhos, muitos deles infames como a da “sacrosantidade” da guerra. Último lugar do pódio para o primeiro filme que vejo do japonês Hamaguchi, cinco horas felizes de cinema, um tempo em suspenso, um cubismo existencial que por vezes parece Cassavetes e noutras Rohmer. Quarto lugar é da realizadora catalã, Carla Simón, por nos dar uma câmara à altura da infância, nos mostrar como o cinema pode apanhar a percepção de uma criança e por explicar a Alfonso Cuarón como se pode revisitar a infância sem tirar partido da criadita. Depois, o nosso herói maravilhoso, Ramiro, homem sem grandes aspirações, estátua sorridente numa Lisboa gentrificada. Este foi aliás um ano em que descobri Mozos como o nosso “poeta da desolação e da melancolia“.
O lázaro da realizadora Rohrwacher é um hino à bondade e pureza e é por isso que ele faz menos lembrar o burro de Bresson (não confundir com a expressão “o burro do Bresson”) e os rostos e a santidade perversa de Pasolini. Dogman é mais um dos herois frágeis do ano, juntamente com este Lázaro e com Ramiro. Garrone sabe apanhar um actor e com a sua câmara não larga o osso, numa fábula David contra Golias, domador contra besta raivosa. Aliás, Marcello Fonte e Adriano Tardiolo do filme anterior põe a representação italiana num patamar que não conhecíamos desde Ninetto Favoli, Alberto Sordi ou Marcello Mastroianni. Mandy é um daqueles doces hiper-calóricos, que nos pinta o céu da boca e nos destrói uns quantos neurónios, só isso. E isso já é muito para mim. Quase a fechar o top, um dos poucos filmes delicados que me convenceram (houve vários que não o fizeram, por exemplo, o Kogonada, o último Garrel, mesmo o PTA, nosso “filme do ano”). Call Me by Your Name é um Verão doce, alegre e triste, com Timothée Chalamet a acreditar na sua personagem e nós com ele. Finalmente, não desgostei do regresso de Schrader, um tanto overhyped contudo, e talvez não pelas mesmas razões. Não há muita pachorra por estes lados para um reaquecimento de Bresson, mas há no entanto um interesse pela possibilidade de ligar uma ideia cósmica de fé ao trabalho de hoje muito activo sobre a ecologia. E First Reformed tem isso.
Desilusões: Paul Thomas Anderson em modo piloto, Garrel com pouca coisa a dizer, Martel em modo activista histórico, Haneke apaixonado pelo choque que não choca, o terror sério e inefável de David Gordon Green e Luca Guadagnino, o formalismo de Massadian e o último do Aguilar que me deixou à porta. Filmes “agradáveizinhos”: Que le diable nous emporte, The Shape of Water, The Killing of a Sacred Deer, Frost, Columbus, La Ciambra. Finalmente, aqueles que tive pena de não lhes ter posto a vista em cima: Shoplifters, Correspondências, Jusque’à la garde, Franz, Les gardiennes, os Spielbergs, o James Wan, Cold War, The Other Side of the Wind, Annihilation, The Death of Stalin.
E “prontos”… vão lá à vossa vida.
2-Le livre d’image de Jean-Luc Godard
3-Happî awâ de Ryûsuke Hamaguchi
4-Estiu 1993 (Verão 1993, 2017) de Carla Simón
5-Ramiro (2017) de Manuel Mozos
6-Lazzaro Felice (Feliz Como Lázaro, 2018) de Alice Rohrwacher
7-Dogman (2018) de Matteo Garrone
8-Mandy (2018) de Panos Cosmatos
9-Call Me by Your Name (Chama-me Pelo Teu Nome, 2017) de Luca Guadagnino
10-First Reformed (No Coração da Escuridão, 2018) de Paul Schrader
Muito bem. Antes que o fétido odor a filhoses e coscorões empeste o ar e torne tecnicamente inviável as condições para a prática de visionamento de filmes, assim como da leitura de textos inúteis sobre os mesmos, umas palavras sobre as minhas 10 pílulas de felicidade cinéfila no ano que agora nos finda. No topo o filme da Valeska. Não tanto por aquilo que seria a recriação de um western contemporâneo, mas mais como proposta política, um filme que devia ser mostrado diariamente no Parlamento Europeu até que se parasse de colocar as palavras “crise” e “refugiados” na mesma frase. Depois, o nosso tirésias do cinema, Godard, aqui travestido em Nostradamus. O Livro das Imagens é uma viagem sem fim que começa na voz rouca e testamental do cineasta e que percorre tantos caminhos, muitos deles infames como a da “sacrosantidade” da guerra. Último lugar do pódio para o primeiro filme que vejo do japonês Hamaguchi, cinco horas felizes de cinema, um tempo em suspenso, um cubismo existencial que por vezes parece Cassavetes e noutras Rohmer. Quarto lugar é da realizadora catalã, Carla Simón, por nos dar uma câmara à altura da infância, nos mostrar como o cinema pode apanhar a percepção de uma criança e por explicar a Alfonso Cuarón como se pode revisitar a infância sem tirar partido da criadita. Depois, o nosso herói maravilhoso, Ramiro, homem sem grandes aspirações, estátua sorridente numa Lisboa gentrificada. Este foi aliás um ano em que descobri Mozos como o nosso “poeta da desolação e da melancolia“.
O lázaro da realizadora Rohrwacher é um hino à bondade e pureza e é por isso que ele faz menos lembrar o burro de Bresson (não confundir com a expressão “o burro do Bresson”) e os rostos e a santidade perversa de Pasolini. Dogman é mais um dos herois frágeis do ano, juntamente com este Lázaro e com Ramiro. Garrone sabe apanhar um actor e com a sua câmara não larga o osso, numa fábula David contra Golias, domador contra besta raivosa. Aliás, Marcello Fonte e Adriano Tardiolo do filme anterior põe a representação italiana num patamar que não conhecíamos desde Ninetto Favoli, Alberto Sordi ou Marcello Mastroianni. Mandy é um daqueles doces hiper-calóricos, que nos pinta o céu da boca e nos destrói uns quantos neurónios, só isso. E isso já é muito para mim. Quase a fechar o top, um dos poucos filmes delicados que me convenceram (houve vários que não o fizeram, por exemplo, o Kogonada, o último Garrel, mesmo o PTA, nosso “filme do ano”). Call Me by Your Name é um Verão doce, alegre e triste, com Timothée Chalamet a acreditar na sua personagem e nós com ele. Finalmente, não desgostei do regresso de Schrader, um tanto overhyped contudo, e talvez não pelas mesmas razões. Não há muita pachorra por estes lados para um reaquecimento de Bresson, mas há no entanto um interesse pela possibilidade de ligar uma ideia cósmica de fé ao trabalho de hoje muito activo sobre a ecologia. E First Reformed tem isso.
Desilusões: Paul Thomas Anderson em modo piloto, Garrel com pouca coisa a dizer, Martel em modo activista histórico, Haneke apaixonado pelo choque que não choca, o terror sério e inefável de David Gordon Green e Luca Guadagnino, o formalismo de Massadian e o último do Aguilar que me deixou à porta. Filmes “agradáveizinhos”: Que le diable nous emporte, The Shape of Water, The Killing of a Sacred Deer, Frost, Columbus, La Ciambra. Finalmente, aqueles que tive pena de não lhes ter posto a vista em cima: Shoplifters, Correspondências, Jusque’à la garde, Franz, Les gardiennes, os Spielbergs, o James Wan, Cold War, The Other Side of the Wind, Annihilation, The Death of Stalin.
E “prontos”… vão lá à vossa vida.
"prontos", sim, em damn good, amazing, i say.
ResponderEliminar(a ver, a ver :)
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Tem um 2019 soberbo: isto é uma ordem, que eu sou mui mandadeira :D