terça-feira, 11 de dezembro de 2018


Creio que era Whitman que falava que ninguém nem nada morriam nunca, de tudo continuar num cósmico circuito de renovação. Pensei nessa circularidade ao ler estes breves contos de Leonardo Di Vinci. Isso porque, para lá da antropomorfização de animais que as fábulas normalmente convocam, há esta ideia de tudo ser passível de voz ou expressão. Não só os animais, mas também as plantas, as árvores, as pedras, as paredes, a água, as chamas. Essa assembleia de existências, chamemos-lhe assim, têm o condão de fazer ressurgir no leitor o bom peso da responsabilidade, do espaço que devem ocupar as nossas acções no entremeio de todo o tipo de elementos e expressões.

Da Vinci dedica muitas das fábulas ao excesso de ambição, ao quem tudo quer tudo perde. As minhas duas favoritas acabam por indirectamente tocar o tema. Uma chama-se simplesmente «Neve» e é sobre um montinho de neve que estava no alto da montanha e que se sente mal por estar tão alto enquanto que os outros flocos estão lá em baixo. Resolve descer a montanha e, ao transformar-se, lentamente, numa bola de neve gigante e em avalanche acaba por ser a última a ser derretida — morta — pelo sol. [Por vezes é preciso descer para subir.] O segundo, «A Macaca e o Passarinho» é uma história clássica dos malefícios da possessão. A macaca aperta tanto o passarinho devido ao fascínio que tem por ele que acaba por matá-lo. O que gosto nesta história é que ela é também um ensinamento geográfico: estar demasiado próximo das coisas pode ajudar-nos a perder a perspectiva. E isso aplica-se ao amor, ao conhecimento, à posse frenética do tempo…

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