«Não creio que um pavão inveje a outro pavão a sua cauda, pois todos estão persuadidos de que a sua é a mais bela do mundo. Por consequência, os pavões são aves pacíficas. Imaginai agora como seria infeliz a vida de um pavão se lhe tivessem ensinado que é feio ter boa opinião a respeito de si mesmo. Sempre que visse um pavão exibir a sua causa, pensaria: “Não devo imaginar que a minha cauda é mais bela do que aquela, isso seria uma presunção, mas, oh, como eu desejaria que fosse! Essa ave odiosa está tão convencida da sua magnificência! Vou arrancar-lhe algumas penas! Então não teria receio de comparar-me com ela.” Ou talvez imaginasse fazê-lo cair numa armadilha para provar que um tal pavão era culpado de atitudes contra a sociedade dos pavões e o denunciasse à assembleia dos chefes. Gradualmente, estabelecer-se-ia o princípio de que os pavões com caudas particularmente belas são quase sempre maus e que como chefe sábio do reino devia ser escolhido um humilde pavão, cuja cauda fosse constituída somente por algumas penas sujas. Uma vez estabelecido este princípio, mandar-se-iam matar os pavões mais bonitos, até que por fim uma cauda realmente esplêndida se tornasse recordação obscura do passado. Tal é a vitória da inveja mascarada de virtude. Mas enquanto cada pavão pensar que é mais belo do que todos os outros, não haverá necessidade de uma tal repressão. Todos esperam alcançar o primeiro prémio na competição e cada um, porque estima a sua pavoa, julga que o conseguiu.»
Bertrand Russell in "A Conquista da Felicidade"
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