Hoje às 11:45 da manhã a sic notícias mostrou, ocasião insólita, em split
screen duas imagens extremamente reveladoras. À direita implodia em poucos segundos
a torre número 5 do Bairro do Aleixo no Porto. À esquerda, no debate quinzenal
da AR entre Governo e oposição, assistíamos à «implosão» da soberania constitucional,
debatendo-se a possibilidade de introdução de limites ao deficit na lei maior do Estado. Uma ideia de destruição a partir do
seu interior, de dentro para fora, é também metaforicamente válida no que diz respeito aos
efeitos desta crise sobre a União Europeia. Mas o mais relevante nesse possível raccord de implosões é a necessidade que
o sistema tem de organizar o espaço geográfico das suas destruições. A medição
e a calculabilidade da destruição contemporânea minimizam o estrago pela
estratégia da colocar em palco a «falha», o erro. Se tem honra de antena o ir
abaixo de um prédio, é porque a celebração do fim da ordem, do lugar vertical
que envelheceu e merece ser substituído são mascaradas pelo espectáculo da sua
destruição. Não menos assim é com o triste espectáculo da queda, em limites
reservados, das velhas e devolutas soberanias europeias ante a necessidade de conter o
inevitável: a escalada da dívida dos países periféricos da Europa Mercozy. Essa
destruição merece lugar de palco priviligiado, a AR, pois é aí que o erro devém
espectáculo, que o esgrimir de ideias na arena permite mascarar essa operação
acéptica, implosiva diga-se mais uma vez, de remoção dos limites da soberania
nacional ante as necessidades de um projecto à beira, ele próprio do colapso.
Quem abrisse hoje a televisão à referida hora, poderia pensar na coesão hollywodesca
do cinema clássico, tal a capacidade que estas imagens têm, de contrariar, ainda que por uns breves segundos, a absoluta dispersão, a total incapacidade de distinguir entre o que vai abaixo e o que cresce no seu lugar.
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