"Receio que não possamos permanecer por muito tempo na confusão e na miséria actuais por nossa própria culpa. Receio mesmo que, após termos esgotado inutilmente a nossa curiosidade sem que as nossas investigações tenham acrescentado algo à nossa felicidade, as pessoas se desiludam com as ciências e que um desespero fatal as faça recair na barbárie. O horrível aumento do número dos livros, que continua a crescer, pode contribuir muito para este resultado. Porque, em limite, a desordem tornar-se-á quase inultrapassável: a própria multidão dos autores irá expô-los em breve aos perigos do esquecimento geral: o sonho de glória que anima muitos dos que se dedicam ao estudo vai em breve desaparecer. Será talvez tão vergonhoso ser escritor como dantes foi honroso. Na melhor das hipóteses, podemos distrair-nos com pequenos livros de actualidade, que durarão apenas alguns anos e servirão para, durante breves momentos, arrancar o leitor ao seu tédio mas que foram escritos sem qualquer desejo de fazer avançar a ciência ou merecer os favores da posteridade. Dir-me-ão que há tantas pessoas que escrevem que seria impossível que as suas obras sobrevivessem todas. Admito-o e não desaprovo inteiramente que, tal como as flores de uma primavera ou os frutos de um Outono, esses livrinhos da moda não durem mais que um ano. Se são bem feitos, têm o mesmo efeito que uma conversação útil, mais não fazem do que agradar e impedir os ociosos de fazer asneiras. Enquanto tal, ajudam a formar o espírito e a linguagem. Por vezes, têm como finalidade conduzir os seus contemporâneos para o bem, coisa que eu igualmente persigo ao publicar esta pequena obra".
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