À quarta foi mesmo de vez. Desde a primeira edição do MOTELx que João Monteiro e a sua equipa tentava trazer a Portugal, aquele que é o convidado imprescindível de qualquer festival de cinema de terror que se preze, George Romero. O pai do filme de zombies, e porque não dizê-lo do terror moderno, tem estado presente nas sessões da secção CULTO DOS MESTRES VIVOS inteiramente dedicado à sua obra. Ontem às 21:45, na estreia nacional do seu mais recente Survival of the Dead, foi recebido com uma zombiewalk pelos seus fãs, “rasgados e pintados” a rigor para a ocasião. Depois, foi um auditório cheio da sala 1 do S. Jorge, que recebeu com uma ovação de pé o americano. Romero anunciou que domingo, 3 de Outubro pelas 16:30 haverá um Q. & A. com o público à qual se seguirá uma sessão de autógrafos. Falou ainda de Survival, como homage aos westerns clássicos, e de Howard Hawks e William Wyler.
O sexto filme da saga iniciada com Night of the living Dead (1968), expande a história de uma personagem secundária de Diary of the Dead (2007), um soldado que, na luta pela sobrevivência, parte para uma ilha perto de Delaware. Nessa ilha, onde duas famílias poderosas irlandesas dominam os zombies, conseguiu-se criar uma situação estável. Contudo, quando humanos começam a morrer, a família O’Flynn quer destruir todos os zombies, enquanto os Muldoons acreditam que os zombies devem ser mantidos vivos para encontrar uma cura. Já muito longe da densidade que caracterizou os primeiros filmes da série, este Survival of the Dead tem propósitos de arruinar a seriedade da mitologia zombie, com influência dos cartoons de Chuck Jones, designadamente Coyote e Road Runner. Sendo o resultado atípico, o universo de Romero não beneficia muito com algumas transformações no mood, sendo que algumas cenas mais deslocadas ressuscitam quase que inevitavelmente a dimensão humana presente na metáfora morta-viva do americano. A retrospectiva prossegue nos próximos dias com Monkey Shines (dia 1, às 17:00), Creepshow (dia 2, às 17:00) e, no dia de encerramento do festival, Martin (dia 3, 19:30).
O dia de ontem foi ainda marcado pela apresentação de dois “agradáveis” psicopatas.
O primeiro é Jacques Beaulieu, mora com a sua família na 5150 Rue des Ormes, e é uma criação de Patrick Senécal, apelidado de Stephen King do Canadá. Este escreveu o romance e adaptou-o para ecrã. A lunaticidade da premissa - um pai obcecado pela realização do justo e pelo xadrês (exteriorização da luta do bem contra o mal), que lidera uma família de mãe apática e filha adolescente sobre quem recaem as suas esperanças de sucessão - conhece na competente realização de Éric Tessier um esforço de afirmação da ideia inicial. Seja pela sólida interpretação da dupla protagonista - Normand D’Amour, o psicopata, e Marc-André Grondin, a vítima - seja por essa dita insistência que transforma a loucura dos factos em visão, o certo é que este 5150 Rue des Ormes consegue ultrapassar esse percurso de descrédito e transformar-se num interessante exercício de terror. Lembre-se que o filme passa outra vez este sábado às 19:30, sala 3.
A mais agradável surpresa até agora no MOTELx, foi feita em 12 dias, com orçamento de 6.000 euros, duração de uns singelos 72 minutos e tem o simples nome Tony. Tony é um caracter study do britânico Gerard Jonhson sobre um homem estranho e solitário, desempregado, aspecto franzino, que percorre as ruas de Londres sem destino certo à procura de amizade. Contudo todos lhe passam a perna: sejam traficantes de droga, prostitutas, maridos ciumentos ou vendedores ambulantes de DVDs. O seu único refúgio é a acção dos anos 80, com Van Damme e Steven Seagall à cabeça, filmes que vê em VHS numa velha televisão. Quando um miúdo do bairro desaparece, todas as atenções se viram para esta estranha personagem. Baseado num verdadeiro serial killer que há uns anos aterrorizou Londres e que esquartejava as suas vítimas desfazendo-se dos seus pedaços através das canalizações, Tony é um impressionante retrato não da mente de um serial killer, mas de uma pessoa a quem lhe acontece matar pessoas em momentos de tensão. O mais perturbante neste pequeno grande filme não é a visão de uma Londres opressiva mas sim o facto deste Tony ser um homem que parece constantemente surpreendido pela realidade. E quando essa surpresa sai do seu controlo, este mata, quase por acidente. É essa violência tão pouco premeditada que aproxima o seu perfil de assassino do retrato de um homem comum e traz a inquietação ao seu espectador. Tony só passa uma vez no MOTELx pelo que seria muito uma boa aposta a distribuição nacional do filme.
Quanto ao dia de hoje o menu é o seguinte.
À tarde, 13:15, sala 3, tem lugar a 3ª e última sessão de curtas-metragens internacionais. Recorde-se que prossegue a mostragem das curtas nacionais, sendo que o júri deste ano, composto pelo crítico britânico Alan Jones, o realizador José Nascimento (Tarde Demais; Lobos) e o historiador José de Matos Cruz, irá atribuir à curta vencedora um prémio no valor de 2000 €, além de serviços de pós-produção no valor de 5000€.
O festival prossegue às 15:00 na mesma sala 3 com a repetição do divertidíssimo The Loved Ones, de Sean Byrne. Às 21:45 na sala 1 é a vez de F, mais um brit-horror movie, desta vez capitalizando os conflitos entre professores e alunos e recentes tiroteios em escolas. Robert Anderson, um velho professor de inglês no final de mais um dia de aulas terá de arranjar maneira de sobreviver a uma ameaça invisível, um grupo de encapuçados, que transformarão a escola numa série de corredores sinistros e salas escuras. O filme estreou apenas o mês passado no FrightFest em Londres. O realizador Johannes Roberts estará presente na sessão.
Logo a seguir, um dos destaques de todo o festival. Os belgas Hélène Cattet e Bruno Forzani estarão presentes na primeira sessão de Amer. Numa belíssima homenagem ao giallo italiano, este filme que venceu o New Visions Award em Sitges, é um ambientado exercício de estilo sobre o desejo, a carne e o terror. Deixando para segundo plano a narrativa, Amer, com os seus clássicos de música italiana dos anos 70 e cores expressivas, promete ser um festim para os apreciadores de cinema fantástico. O filme passa à 00:15 na sala 1.
Uma palavra ainda para a apresentação para Reykjavik Whale Watching Massacre, de Júlíus Kemp, primeiro filme de terror islandês. O filme que cruza Evil Dead e The Texas Chainsaw Massacre, em alto mar, passa hoje à noite às 22:00 na sala 3.
Para consultar o resto da programação, é aqui.
O sexto filme da saga iniciada com Night of the living Dead (1968), expande a história de uma personagem secundária de Diary of the Dead (2007), um soldado que, na luta pela sobrevivência, parte para uma ilha perto de Delaware. Nessa ilha, onde duas famílias poderosas irlandesas dominam os zombies, conseguiu-se criar uma situação estável. Contudo, quando humanos começam a morrer, a família O’Flynn quer destruir todos os zombies, enquanto os Muldoons acreditam que os zombies devem ser mantidos vivos para encontrar uma cura. Já muito longe da densidade que caracterizou os primeiros filmes da série, este Survival of the Dead tem propósitos de arruinar a seriedade da mitologia zombie, com influência dos cartoons de Chuck Jones, designadamente Coyote e Road Runner. Sendo o resultado atípico, o universo de Romero não beneficia muito com algumas transformações no mood, sendo que algumas cenas mais deslocadas ressuscitam quase que inevitavelmente a dimensão humana presente na metáfora morta-viva do americano. A retrospectiva prossegue nos próximos dias com Monkey Shines (dia 1, às 17:00), Creepshow (dia 2, às 17:00) e, no dia de encerramento do festival, Martin (dia 3, 19:30).
O dia de ontem foi ainda marcado pela apresentação de dois “agradáveis” psicopatas.
O primeiro é Jacques Beaulieu, mora com a sua família na 5150 Rue des Ormes, e é uma criação de Patrick Senécal, apelidado de Stephen King do Canadá. Este escreveu o romance e adaptou-o para ecrã. A lunaticidade da premissa - um pai obcecado pela realização do justo e pelo xadrês (exteriorização da luta do bem contra o mal), que lidera uma família de mãe apática e filha adolescente sobre quem recaem as suas esperanças de sucessão - conhece na competente realização de Éric Tessier um esforço de afirmação da ideia inicial. Seja pela sólida interpretação da dupla protagonista - Normand D’Amour, o psicopata, e Marc-André Grondin, a vítima - seja por essa dita insistência que transforma a loucura dos factos em visão, o certo é que este 5150 Rue des Ormes consegue ultrapassar esse percurso de descrédito e transformar-se num interessante exercício de terror. Lembre-se que o filme passa outra vez este sábado às 19:30, sala 3.
A mais agradável surpresa até agora no MOTELx, foi feita em 12 dias, com orçamento de 6.000 euros, duração de uns singelos 72 minutos e tem o simples nome Tony. Tony é um caracter study do britânico Gerard Jonhson sobre um homem estranho e solitário, desempregado, aspecto franzino, que percorre as ruas de Londres sem destino certo à procura de amizade. Contudo todos lhe passam a perna: sejam traficantes de droga, prostitutas, maridos ciumentos ou vendedores ambulantes de DVDs. O seu único refúgio é a acção dos anos 80, com Van Damme e Steven Seagall à cabeça, filmes que vê em VHS numa velha televisão. Quando um miúdo do bairro desaparece, todas as atenções se viram para esta estranha personagem. Baseado num verdadeiro serial killer que há uns anos aterrorizou Londres e que esquartejava as suas vítimas desfazendo-se dos seus pedaços através das canalizações, Tony é um impressionante retrato não da mente de um serial killer, mas de uma pessoa a quem lhe acontece matar pessoas em momentos de tensão. O mais perturbante neste pequeno grande filme não é a visão de uma Londres opressiva mas sim o facto deste Tony ser um homem que parece constantemente surpreendido pela realidade. E quando essa surpresa sai do seu controlo, este mata, quase por acidente. É essa violência tão pouco premeditada que aproxima o seu perfil de assassino do retrato de um homem comum e traz a inquietação ao seu espectador. Tony só passa uma vez no MOTELx pelo que seria muito uma boa aposta a distribuição nacional do filme.
Quanto ao dia de hoje o menu é o seguinte.
À tarde, 13:15, sala 3, tem lugar a 3ª e última sessão de curtas-metragens internacionais. Recorde-se que prossegue a mostragem das curtas nacionais, sendo que o júri deste ano, composto pelo crítico britânico Alan Jones, o realizador José Nascimento (Tarde Demais; Lobos) e o historiador José de Matos Cruz, irá atribuir à curta vencedora um prémio no valor de 2000 €, além de serviços de pós-produção no valor de 5000€.
O festival prossegue às 15:00 na mesma sala 3 com a repetição do divertidíssimo The Loved Ones, de Sean Byrne. Às 21:45 na sala 1 é a vez de F, mais um brit-horror movie, desta vez capitalizando os conflitos entre professores e alunos e recentes tiroteios em escolas. Robert Anderson, um velho professor de inglês no final de mais um dia de aulas terá de arranjar maneira de sobreviver a uma ameaça invisível, um grupo de encapuçados, que transformarão a escola numa série de corredores sinistros e salas escuras. O filme estreou apenas o mês passado no FrightFest em Londres. O realizador Johannes Roberts estará presente na sessão.
Logo a seguir, um dos destaques de todo o festival. Os belgas Hélène Cattet e Bruno Forzani estarão presentes na primeira sessão de Amer. Numa belíssima homenagem ao giallo italiano, este filme que venceu o New Visions Award em Sitges, é um ambientado exercício de estilo sobre o desejo, a carne e o terror. Deixando para segundo plano a narrativa, Amer, com os seus clássicos de música italiana dos anos 70 e cores expressivas, promete ser um festim para os apreciadores de cinema fantástico. O filme passa à 00:15 na sala 1.
Uma palavra ainda para a apresentação para Reykjavik Whale Watching Massacre, de Júlíus Kemp, primeiro filme de terror islandês. O filme que cruza Evil Dead e The Texas Chainsaw Massacre, em alto mar, passa hoje à noite às 22:00 na sala 3.
Para consultar o resto da programação, é aqui.
gostei muito das palavras sobre o "TONY" uma pena que a conversa que era suposto "termos" com actor e realizador tenha sido aquela cena constrangedora. O que se viu foi uma rapariga, que falava para dentro e fazia várias perguntas SEM O MICROFONE (numa das vezes o actor até lhe chamou a atenção para os espectadores que tinham de fazer leitura labial) e parecia que estava sozinha na sala com os dois. A única pergunta que houve, foi dum senhor que estava na fila e para o microfone chegar ao pé dele, foi um pequeno malabarismo, não duvidei que ninguém ia perguntar nada estando nas fileiras restantes. Quero dizer, quer que haja participação do público mas não cria condições para tal.
ResponderEliminarE foi uma pena pois o filme é muito bom e o actor fabuloso!
Um Abraço
legal, gostei muito das informaçoes, qndo mais sempre melhor
ResponderEliminar