quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ainda o MOTELx - as decepções

Triangle - Christopher Smith (UK/Australia, 2009)

Christopher Smith (Creep; Severance) é um entertainer. Esteve em Portugal para apresentar o seu mais recente filme Triangle e, por entre explicações, disse que adorava Portugal exceptuando Cristiano Ronaldo e que havia mesmo uma cena no filme inspirada num caso amoroso que teve há uns anos no nosso país aquando da sua presença no Fantasporto. Essa necessidade de cativar está presente nesta história de um grupo de amigos que vai fazer uma viagem de iate e após uma tempestade e naufrágio se vêm encurralados num misterioso cruzeiro. Se o set up peca por alguma originalidade, o cerne do filme, a sua narrativa circular e em loop, é justificada por uma colecção de elementos mais ou menos batidos que envolvem a dimensão espácio-temporal do triângulo das bermudas e o mito de Sísifo. A caracterização das personagens é bastante esquemática, as surpresas do plot um quanto previsíveis e quando Triangle se aproxima do fim, Smith lança mão de uma dimensão enternecedora que liga a protagonista Jess (Melissa Groove) ao seu filho e a um plano insistente de um gaivota. Provavelmente será lançado em Portugal, correspondendo a uma dimensão mais inóqua e mainstream do terror contemporâneo. Kill it again, Sam.








Corridor - Johan Lundberg e Johan Storm (Suécia, 2009)

Corridor é um filme que disfarça bem, até certo ponto, a sua simplicidade. Um solitário estudante de medicina vê-se, em vésperas de exames, envolvido com a sua vizinha de cima e respectivo namorado violento. Ambientado sobretudo no condómino de apartamentos onde vivem estas personagens, o filme de Johan Lundberg e Johan Storm vale pela construção de um universo claustrofóbico ambientado entre paredes opressivas e doses maciças de café e também pela paranóia de um estudante de medicina que não consegue fazer a ponte entre o que vai no seu interior e os corpos que o rodeiam (e que em última análise constituirão a sua profissão). No fundo, o dilema de Frank é mesmo esse, quando reivindica uma nota mais alta num exame ao professor dizendo-lhe que respondeu numa das perguntas com todos os sintomas que estavam no livro, este responde-lhe que se tratava de uma pergunta de desenvolvimento, que ele tinha de desenvolver. Levemente a fazer lembrar Rear Window, Corridor possui momentos de humor negro que envolvem tareia à terceira idade e vasculhar no caixote do lixo às tantas da manhã.








Survival of the Dead - George Romero (EUA, 2009)

George Romero cavou para si, sem saber, um nicho de filmes e uma temática própria que o colocam como cineasta autor do género zombie. Todos os filmes até hoje, este Survival of the Dead é o sexto, concebem uma metáfora da sociedade que coloca o zombie, o morto-vivo, como ameaça, mas também como fonte de discriminação. Zombie is the new black, por assim dizer. Paralelamente ao lado sério, o lado cómico implica formas hilariantes dos humanos se livrarem destes zombies, conferindo à metáfora uma dimensão gore. Neste último filme, a premissa é homenagear o western clássico, com filmes de Wyler e Hawks na cabeça, além da banda desenhada de Chuck Jones. Romero expande a história de uma personagem secundária de Diary of the Dead (2007), um soldado que, na luta pela sobrevivência, parte para uma ilha perto de Delaware. Nessa ilha, onde duas famílias poderosas irlandesas dominam os zombies, conseguiu-se criar uma situação estável. Contudo, quando humanos começam a morrer, a família O’Flynn quer destruir todos os zombies, enquanto os Muldoons acreditam que os zombies devem ser mantidos vivos para encontrar uma cura. A decepção deste Survival consiste no facto de a historieta que envolve estes clãs inimigos ser tratada com ligeireza em detrimento de alguns clichets do género e da necessidade de colocar zombies a trabalhar no campo, sejam eles cortadores de lenha, carteiros ou mulheres que estendem a roupa ao ar livre.


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