Na última cena de Drag Me to Hell, Christine Brown (Alison Lohman) confessa, imperial, ao seu namorado que a não renovação de crédito à idosa sinistra Sylvia Ganush não foi um mero procedimento imperativo mas sim uma decisão sua, implacável. Nesse momento, aquilo que tinha sido o tradicional enredar sádico da inocente mosca nas malhas do mal, ou seja, a maldição de Alison como algo precipitado e injusto, transforma-se, e com ele “engrossa” o último filme de Sam Raimi, num tale moral que opõe decisões de carreira/amor (porque o amor do namorado Clay implica um estatuto social) e decisões de justeza moral. Essa inversão completa-se quando a galeria de personagens circundantes a Alison, com que Raimi constrói o seu dilema moral, já não a fazem vítima em terra mas antes alma “danada”. E nesse sentido há uma perversão moral que acompanha esta interessante noção de conto: todos, os indecisos (o namorado), os ambiciosos (o colega de trabalho), os gananciosos (o patrão), os preconceituosos (os pais do namorado) ou mesmo os terminais (o casal no bar), têm na sua imperfeição uma condição que os define como seres humanos e que não envolve, como no caso de Alison, uma escolha e sobretudo a mudança de um estatuto.
Enquanto exercício de terror há uma evidência que é necessário ser reafirmada: Drag me To Hell faz da trilogia Spider Man uma espécie de détour desnecessário na carreira de Sam Raimi, denotando um claro prolongamento formal e sobretudo humorístico entre a trilogia Evil Dead e o terror físico e bem-disposto daquele. Partindo dos pequenos objectos - o lenço, a dentadura, o bolo receita do campo que "vê" Alison no seu novo eu, magro e burguês, o botão, a mosca - o inferno nas pequenas coisas (ou não fosse este uma história sobre a perversão da materialidade), Raimi encontrou o lugar para o seu terror: algures entre o dilema pessoal da sua protagonista e o visualismo grotesco como espaço de ironia (a Peter Jackson de Braindead e Bad Taste falhava-lhe o lado do dilema). E aqui reside, entre estes, a sua eficácia, uma vez que assumido o caricatural - e que mais o pode fazer do que um filme onde a não concessão de crédito é literalmente sinónimo de terror? – a expectativa do que pode causar medo diminui. Mas não desaparece. E Drag Me to Hell consegue causá-lo, o que é hoje, sem dúvida, um feito.
Enquanto exercício de terror há uma evidência que é necessário ser reafirmada: Drag me To Hell faz da trilogia Spider Man uma espécie de détour desnecessário na carreira de Sam Raimi, denotando um claro prolongamento formal e sobretudo humorístico entre a trilogia Evil Dead e o terror físico e bem-disposto daquele. Partindo dos pequenos objectos - o lenço, a dentadura, o bolo receita do campo que "vê" Alison no seu novo eu, magro e burguês, o botão, a mosca - o inferno nas pequenas coisas (ou não fosse este uma história sobre a perversão da materialidade), Raimi encontrou o lugar para o seu terror: algures entre o dilema pessoal da sua protagonista e o visualismo grotesco como espaço de ironia (a Peter Jackson de Braindead e Bad Taste falhava-lhe o lado do dilema). E aqui reside, entre estes, a sua eficácia, uma vez que assumido o caricatural - e que mais o pode fazer do que um filme onde a não concessão de crédito é literalmente sinónimo de terror? – a expectativa do que pode causar medo diminui. Mas não desaparece. E Drag Me to Hell consegue causá-lo, o que é hoje, sem dúvida, um feito.
Sem comentários:
Enviar um comentário