Entre Las Hurdes e este Gran Casino (1947), primeiro dos vinte filmes que Buñuel faria no Mexico, passaram-se catorze anos e nestes, uma guerra civil, quatro filmes populares produzidos em Espanha, um cargo de adido cultural em Paris, a montagem de filmes anti-nazi no Museu de Arte Contemporânea de Nova Iorque e dois trabalhos em Hollywood. O primeiro como representante da Republica espanhola para supervisionar filmes sobre a Guerra Civil e o segundo à frente das dobragens espanholas de filmes da Warner. A aventura americana terminou com o livro The Secret Life of Salvador Dali, no qual o pintor viria a denunciar Buñuel como comunista. Exilado, sem dinheiro, decidiu aceitar um pedido do produtor Oscar Dancigers para filmar no Mexico.
Baseado numa história de Michel Veber e argumento de Mauricio Magdaleno, este “melodrama musical”, com uma estrutura a lembrar um western de série B, era sobretudo um veículo para os famosos cantores mexicanos Jorge Negrete e Libertad Lamarque. E é sobretudo por isso que costuma ser lembrado, sendo que Buñuel admitiu que estas histórias eram uma forma de voltar à realização e sobreviver, pelo que em tudo o mais o aborreciam de morte. E esse aborrecimento deriva, no caso do plot de Gran Casino, – uma mulher argentina que vem ao Golfo do México ter com o seu irmão que desapareceu devido a um conflito com o dono de um casino por causa de uns poços de petróleo – de tudo ser previsível, com excepção da inocência dos números musicais, crowdpleasers do público mexicano. Contudo, faz parte da arqueologia crítica, no que diz respeito à filmografia de um cineasta maior como Buñuel, ver traços autorais em obras suas consideradas “menores”.
E os momentos de distracção buñueliana não são tão poucos como isso, sendo que ilustrativo desse seu “desinteresse” é, sem dúvida, a cena em que a personagem de Negredo se enfada com a cleptomaníaca Nanette e Buñuel concentra a atenção da cena no reflexo de uma recipiente de gelo, como imagem de desfoque. Ou o olhar gozão do espanhol sobre os tradicionais números musicais: numa das ocasiões as bailarinas empunham lanternas e em quase todos os outros, do nada, surge o típico coro mexicano de bigode, seja a canção num palco ou numa prisão. Mas mais do que marcas que estão à vista para quem as quiser ver, Gran Casino é também outro exemplo das acções da burguesia exploradora: na “casa amarilla” vive o verdadeiro vilão, o responsável pelas mortes e desaparecimentos, um executivo, claro está, alemão, que quer à força comprar os poços. Poços que nunca chegarão a reabrir, noutro exemplo dos famosos “objectivos inconcretizados” de Buñuel. Mas aqui há uma recompensa “burguesa”, um outro lado. Como diz Mercedes no final “algo gañamos com nuestra derrota” e o que se ganhou foi o amor entre Mercedes e Gerardo. O único jogo importante para o público mexicano a ser jogado no lugar de derrotas que foi o Gran Casino.
Baseado numa história de Michel Veber e argumento de Mauricio Magdaleno, este “melodrama musical”, com uma estrutura a lembrar um western de série B, era sobretudo um veículo para os famosos cantores mexicanos Jorge Negrete e Libertad Lamarque. E é sobretudo por isso que costuma ser lembrado, sendo que Buñuel admitiu que estas histórias eram uma forma de voltar à realização e sobreviver, pelo que em tudo o mais o aborreciam de morte. E esse aborrecimento deriva, no caso do plot de Gran Casino, – uma mulher argentina que vem ao Golfo do México ter com o seu irmão que desapareceu devido a um conflito com o dono de um casino por causa de uns poços de petróleo – de tudo ser previsível, com excepção da inocência dos números musicais, crowdpleasers do público mexicano. Contudo, faz parte da arqueologia crítica, no que diz respeito à filmografia de um cineasta maior como Buñuel, ver traços autorais em obras suas consideradas “menores”.
E os momentos de distracção buñueliana não são tão poucos como isso, sendo que ilustrativo desse seu “desinteresse” é, sem dúvida, a cena em que a personagem de Negredo se enfada com a cleptomaníaca Nanette e Buñuel concentra a atenção da cena no reflexo de uma recipiente de gelo, como imagem de desfoque. Ou o olhar gozão do espanhol sobre os tradicionais números musicais: numa das ocasiões as bailarinas empunham lanternas e em quase todos os outros, do nada, surge o típico coro mexicano de bigode, seja a canção num palco ou numa prisão. Mas mais do que marcas que estão à vista para quem as quiser ver, Gran Casino é também outro exemplo das acções da burguesia exploradora: na “casa amarilla” vive o verdadeiro vilão, o responsável pelas mortes e desaparecimentos, um executivo, claro está, alemão, que quer à força comprar os poços. Poços que nunca chegarão a reabrir, noutro exemplo dos famosos “objectivos inconcretizados” de Buñuel. Mas aqui há uma recompensa “burguesa”, um outro lado. Como diz Mercedes no final “algo gañamos com nuestra derrota” e o que se ganhou foi o amor entre Mercedes e Gerardo. O único jogo importante para o público mexicano a ser jogado no lugar de derrotas que foi o Gran Casino.
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