As palavras que mais ouvimos a propósito de The Expendables foram, por esta ordem, “nostalgia”, “vaidade” e por fim, “caricatura”. Estas servem para, na maioria dos casos, suportar o raciocínio que conduz à mediocridade do último filme de Sylvester Stallone.
Comecemos por esta última conclusão: “The Expendables é um filme medíocre”. Afirmá-lo implica assumir que a grande maioria das suas imagens e seus sons não possui qualidade mínima e que o filme se auto-encerra numa espécie de vazio. Ou, situar o critério em meia dúzia de factores que não são, de longe, a razão de ser do objecto em causa. Sabemos que a plot é mínimo, que o mundo de General Garza e James Munroe está hiper-simplificado (mesmo para os padrões de um filme de acção), que há diálogos risíveis e que a banda sonora é descuidada. E nesse sentido, de acordo, trata-se de um filme medíocre. (Mas quando é que, nesse sentido, os filmes de Stallone não foram “medíocres”?)
Mas está na cara que The Expendables não existe por causa disso, e aliás, quase pressupõe esse “descuido”. E, assim, qualificá-lo de medíocre é vê-lo pelo que ele não é, é ignorar uma série de coisas, é como dizer que Avatar também é um blockbuster medíocre sem mais e esquecer que é sobretudo o 3D que o justifica. Com a diferença de ser duvidoso que essa terceira dimensão acrescente alguma coisa à qualidade do filme em causa, ou por outra, como se o 3D de Avatar justificasse uma crítica só para ele, separável do próprio filme.
Depois de se sublinhar todos estes aspectos, The Expendables seria então um exercício de “nostalgia” motivado por uma “vaidade”e obsessão pela juventude do seu argumentista, realizador e protagonista.
Basta ver uns minutos quer de Rocky Balboa (2006), Rambo (2008), ou deste último The Expendables (2010) para perceber que todas essa personagens têm um pudor em auto representar-se como heróis de acção, auto ironizando a sua posição de caricatura, mantendo-se longe de qualquer romance que não platónico, tendo mesmo uma certa vergonha do próprio corpo (não é Stallone que está a tatuar no seu corpo, letra a letra, a palavra “expendables”?).
Obviamente que a chave destes três filmes capitaliza um sentimento de nostalgia face aos heróis em causa, e mais concretamente em The Expendables, a saudade das fórmulas do filme de acção dos anos 80. Agora, mais do que um exercício de hedonismo, Sylvester Stallone é um homem apanhado no “dilema do carpinteiro” que toda a vida fez cadeiras e agora lhe pedem para dominar design de interiores. Stallone só sabe fazer cinema assim, e essa honestidade desarmante faz mais pela alma dos seus últimos três filmes do que qualquer preocupação de verosimilhança (e repare-se, por exemplo, não é por Sam Worthington ter 34 anos que eu acredito mais nos seus saltos entre penhacos ou lutas com dragões). E o irónico é que essa obstinação do herói que recusa a reforma (o que não é novo, lembremo-nos de Wayne, Bogart, Cooper, etc, etc) e que possui marcas visíveis de decadência corporal, é algo que cai hoje, num tempo em que o cinema vive uma querela tecnológica e resiste ao seu desaparecimento analógico, como statement de um cinema onde os seus corpos são precisamente o que de mais vital e jovem possuem, a ideia de que a bad body is better than no body. E conversamente, “bad Shakespeare” também é melhor que “no Shakespeare”.
É precisamente a consciência dessa sua anacronia que permite que The Expendables não se feche num exercício camp de acção nostálgico. Nesta sua nova posição, Sylvester Stallone tem bastante mais a dizer no presente do que o ensimesmado “dantes é que era, dantes é que se faziam filmes a sério”. A comprová-lo está a forma como, a suportar as cenas de acção, não foi aproveitado o feeling de “let’s have some fun and kill some bad guys” que o all star team que Stallone reuniu permitia. Não há felicidade banana, mas também não há desgosto pelo que já não pode vir a ser. Há antes uma certa melancolia pela incapacidade do corpo, do qual Mickey Rourke é o oráculo, e inegavelmente cenas de acção que homenageiam uma certa ideia de raiva, agressividade, a tal atitude “comando” que espelham bem esse desgosto. E um desgosto assim não pode estar mais longe da mediocridade.
Comecemos por esta última conclusão: “The Expendables é um filme medíocre”. Afirmá-lo implica assumir que a grande maioria das suas imagens e seus sons não possui qualidade mínima e que o filme se auto-encerra numa espécie de vazio. Ou, situar o critério em meia dúzia de factores que não são, de longe, a razão de ser do objecto em causa. Sabemos que a plot é mínimo, que o mundo de General Garza e James Munroe está hiper-simplificado (mesmo para os padrões de um filme de acção), que há diálogos risíveis e que a banda sonora é descuidada. E nesse sentido, de acordo, trata-se de um filme medíocre. (Mas quando é que, nesse sentido, os filmes de Stallone não foram “medíocres”?)
Mas está na cara que The Expendables não existe por causa disso, e aliás, quase pressupõe esse “descuido”. E, assim, qualificá-lo de medíocre é vê-lo pelo que ele não é, é ignorar uma série de coisas, é como dizer que Avatar também é um blockbuster medíocre sem mais e esquecer que é sobretudo o 3D que o justifica. Com a diferença de ser duvidoso que essa terceira dimensão acrescente alguma coisa à qualidade do filme em causa, ou por outra, como se o 3D de Avatar justificasse uma crítica só para ele, separável do próprio filme.
Depois de se sublinhar todos estes aspectos, The Expendables seria então um exercício de “nostalgia” motivado por uma “vaidade”e obsessão pela juventude do seu argumentista, realizador e protagonista.
Basta ver uns minutos quer de Rocky Balboa (2006), Rambo (2008), ou deste último The Expendables (2010) para perceber que todas essa personagens têm um pudor em auto representar-se como heróis de acção, auto ironizando a sua posição de caricatura, mantendo-se longe de qualquer romance que não platónico, tendo mesmo uma certa vergonha do próprio corpo (não é Stallone que está a tatuar no seu corpo, letra a letra, a palavra “expendables”?).
Obviamente que a chave destes três filmes capitaliza um sentimento de nostalgia face aos heróis em causa, e mais concretamente em The Expendables, a saudade das fórmulas do filme de acção dos anos 80. Agora, mais do que um exercício de hedonismo, Sylvester Stallone é um homem apanhado no “dilema do carpinteiro” que toda a vida fez cadeiras e agora lhe pedem para dominar design de interiores. Stallone só sabe fazer cinema assim, e essa honestidade desarmante faz mais pela alma dos seus últimos três filmes do que qualquer preocupação de verosimilhança (e repare-se, por exemplo, não é por Sam Worthington ter 34 anos que eu acredito mais nos seus saltos entre penhacos ou lutas com dragões). E o irónico é que essa obstinação do herói que recusa a reforma (o que não é novo, lembremo-nos de Wayne, Bogart, Cooper, etc, etc) e que possui marcas visíveis de decadência corporal, é algo que cai hoje, num tempo em que o cinema vive uma querela tecnológica e resiste ao seu desaparecimento analógico, como statement de um cinema onde os seus corpos são precisamente o que de mais vital e jovem possuem, a ideia de que a bad body is better than no body. E conversamente, “bad Shakespeare” também é melhor que “no Shakespeare”.
É precisamente a consciência dessa sua anacronia que permite que The Expendables não se feche num exercício camp de acção nostálgico. Nesta sua nova posição, Sylvester Stallone tem bastante mais a dizer no presente do que o ensimesmado “dantes é que era, dantes é que se faziam filmes a sério”. A comprová-lo está a forma como, a suportar as cenas de acção, não foi aproveitado o feeling de “let’s have some fun and kill some bad guys” que o all star team que Stallone reuniu permitia. Não há felicidade banana, mas também não há desgosto pelo que já não pode vir a ser. Há antes uma certa melancolia pela incapacidade do corpo, do qual Mickey Rourke é o oráculo, e inegavelmente cenas de acção que homenageiam uma certa ideia de raiva, agressividade, a tal atitude “comando” que espelham bem esse desgosto. E um desgosto assim não pode estar mais longe da mediocridade.
Também acho que "The Expendables" (como o próprio Stallone) está bastante longe da mediocridade. E é, de facto, essa honestidade de que falas que impede ambos de se aproximarem dela. O anacronismo que atravessa o filme é muito interessante. "Bad Ford" é melhor que "no Ford", eheh.
ResponderEliminarParabéns pelo texto.
Mais do que medíocre diria que é fraco. Esperava, não um grande filme, mas um grande guilty pleasure. O filme tinha potencial para isso. Ao invés, Jet Li é empurrado para terceiro plano, Lundgren poderia ter uma importância mais significativa e toda aquela historieta de "treta" já foi explorada por Stallone, sem sucesso, no seu último Rambo. Tenho pena. Gosto dos Rockys porque neles via-se alma. Neste vê-se dinheiro.
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