Sous le soleil de Satan, 1987 (8/10)
Tenho de dizer que tenho um "fraquinho" (desculpem-me a linguagem secular) pelos milagres no cinema. Não sei explicar, ou talvez saiba: é pôr a nu a dimensão do inexplicável. E o espectador vai por ali adentro, ou afora, sem a responsabilidade moral e racional de procurar uma explicação. Quer dizer, os seus olhos, a sua cabeça, o seu coração, interligados de alguma forma, o que fazem é gravitar em torno de um mistério. E que sentimento de poder (ainda que muitas vezes impotente) o de ver cada filme como se ele fosse ou pudesse ser um milagre. Cheguei tarde a este "Sous le Soleil de Satan" e ele não é nenhum paliativo dos milagres de Dreyer. É antes um filme que tem tanto de inexplicável como de submisso. Um corpo, o de Depardieu, em contenção, uma luta interior constante, os espaços que percorre são os do demónio Pialat que o provoca com as suas cores, com a câmara desperta no meio do sono do espírito do nosso herói. Não sei descrever este milagre, ele é feito de uma viagem, e nesse trajecto é sempre ver para crer, nunca ver para concluir.
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