Raccords do Algoritmo #23: Inferno cá dentro e inferno lá fora
De acordo com Framing Faust: Twentieth-Century Cultural Struggles de Inez Hedges, em 1910 já o mito de Fausto ia em, pelo menos, 18 adaptações. Quando chegamos a este Rapsodia satanica (Rapsódia Satânica, 1917) de Nino Oxilia já o mudo tinha também preocupações de tom, de mal-estar interior, a nuance de um romantismo doentio. Oxilia foi um conhecido dramaturgo, poeta e realizador italiano que morreu muito novo, ainda antes dos 30, numa batalha na 1ª Guerra Mundial. Ele também incorporou, tragicamente, o ideal da eterna juventude que aqui se apresenta como tentação à diva Lyda Borelli. O filme é também inspirado num poema de Fausto Maria Martini “Rapsodia Satanica: Poema cinema-musicale”. Ao contrário das demonstrações cinéticas do poder do diabo que víamos em George Méliès, por exemplo, aqui, Mephisto, interpretado por Ugo Bazzini, tem uma dimensão lírica e insinuante. Ele sai de um quadro, ganha vida a partir dele. Tema que era recorrente no cinema mudo – lembro, o excelente An Unsullied Shield (1913) de Charles Brabin, no qual os ancestrais de um homem que não honra a sua promessa no leito de morte do pai saem dos seus quadros e voltam à vida para lhe mostrar as dificuldades pelas quais passaram ao longo dos séculos, encorajando-o a perseverar ante as dificuldades. Aqui, o que Mephisto fará ao sair do quadro é pedir à Condessa Alba d’Oltrevita que parta o símbolo do amor se quiser regressar à juventude, isto é, que parta o tempo.
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