quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

A máscara de Bogdanovich


Há qualquer coisa de trágico na filmografia de Bogdanovich e nem vale a pena falar da sua atribulada vida sentimental. O que quero dizer é que os seus filmes parecem inadvertidamente aproximá-lo de um destino do qual se quer afastar. No caso de The Mask é difícil ser mais evidente. O caso real de Roy L. Dennis serve como drama inspirador sobre a descriminação e sobre a máscara universal de cada um. A família comunitária e motard do Dennis espelha o relativismo de um misfits among misfits. Nesta encenação de máscaras o agridoce da biografia do jovem deficiente surge o mais possível "sem máscara". E é aí, na criação da empatia ingénua com as personagens (aquele gigante gago a lembrar Bud Spencer, a Laura Dern a fazer de ceguinha, o rosto masculino de Cher e seus olhos de drogada) que Bogdanovich se rende. Ele nunca poderia entender o dilema de um misfit, pois ele é por definição um cineasta demasiado encaixado na "família". Só os anónimos espectadores podem fazer de vez em quando uma certa justiça, mostrando-lhe, por exemplo, que as imagens deste The Mask dificilmente chegariam mais longe do que a piedade.

2 comentários:

  1. "aquele gigante gago a lembrar Bud Spencer, a Laura Dern a fazer de ceguinha, o rosto masculino de Cher e seus olhos de drogada"

    Muito bem, muito bem... Já está a sacar.

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