quarta-feira, 7 de setembro de 2011

À janela já não está ninguém


É incrível comprovar que mesmo hoje, 2011, mesmo ali, na Cinemateca Portuguesa, uma experiência formal com a luz como WINDOWS, de 12 minutos, do muito nomeado Apichatpong Weerasethakul, pode provocar o riso. Já muitos anos depois de Mekas, McLaren, mesmo Warhol, o riso de ontem era um riso nervoso de uma meia plateia que recebeu a experiência perceptiva daquelas breves imagens como um ataque a qualquer coisa de sagrado, um gozo aberto às virtudes sacrossantas no nosso tempo «útil». Como se a janela que vemos a ser penetrada pela luz, em plena descoberta das potencialidades do vídeo pelo realizador tailandês, a janela do título, fosse antes a do Windows, numa piadinha indecente. E mesmo que fosse... Mas o que choca mesmo não é o riso em si, pois o impacto do desconhecido, o nervoso, sempre será uma reacção do crescimento. O que indigna é verificar que as imagens em movimento, mesmo «na casa delas», ainda não dispõem da liberdade suficiente para se desembaraçar de outras leituras, as quais o cinema talvez até tenha experimentado, mas das quais se pretende desembaraçar às vezes. Como se o impressionismo pudesse ser um insulto.

Como há dez anos, em ORDET, de Dreyer, nessa mesma sala, o riso mantém-se. Na altura a afronta tinha sido uma certa ressurreição. Hoje já toda a gente «ressuscitou» sem problemas, mas há sombras que ainda incomodam.

2 comentários:

  1. Parabens pelo teu espaço e obrigado a visita ao meu blog. Vou te linkar no meu blog. Desse diretor assisti tio Bonmee, um dos melhores do ano. Abração!

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