
Esta introdução para falar do momento mais marcante, aquela foto de Berlusconi de fita no cabelo, que surge mais ou menos a metade do documentário de Erik Gandini VIDEOCRACY Basta Apparire. Algo apressado pela denúncia, VIDEOCRACY é um documentário que mostra a experiência cultural de manipulação a que Berlusconi sujeitou a Itália através do controlo da televisão pública e privada. Embora surja como pano de fundo toda a informação política de que o estadista italiano se serviu para sucessivas reeleições, o foco do filme de Gandini é sobretudo sobre o retrato de uma geração pouco instruída em Itália que vive os efeitos nefastos da decadência deste star system. Sistema esse que nasceu no início dos anos 80 com o primeiro canal de Berlusconi onde um quiz show feito à tarde mobilizava milhares de italianos pois cada resposta certa dada significava que uma dona de casa incógnita, num bar como estúdio improvisado, tirava uma peça de roupa. Trinta anos passados e milhares de outros programas sobre nada, e são milhares as jovens italianas que desejam casar com futebolistas ou ter uma oportunidade como velinas (dançarinas que fazem passes de dança entre as intervenções dos apresentadores nos reality shows). A indústria dos paparazzi e revistas gossip explodiu e os agentes televisivos são vistos como novos imperadores capazes de dar ou tirar o poder.
Que a decadência da cultura de massas seja óbvia não é um exclusivo italiano. Que a dimensão da manipulação de informação e de pobres destinos seja um efeito dessa decadência também não. O interessante neste VIDEOCRACY é que neste império, ao contrário de outros, ainda há uma cabeça nobre visível a comandá-lo, dir-se-ia na «digna» linhagem de Mussolini, uma figura que em Itália não foi de longe tão escrutinada como o seu, digamos, congénere alemão. Desta forma, VIDEOCRACY permite-se ser uma espécie de plataforma para repensar estas linhagens, questionar o papel dos sorrisos e sobretudo encetar um projecto de renovação identitária que a Itália ainda não abraçou desde o pós-guerra.
Que a decadência da cultura de massas seja óbvia não é um exclusivo italiano. Que a dimensão da manipulação de informação e de pobres destinos seja um efeito dessa decadência também não. O interessante neste VIDEOCRACY é que neste império, ao contrário de outros, ainda há uma cabeça nobre visível a comandá-lo, dir-se-ia na «digna» linhagem de Mussolini, uma figura que em Itália não foi de longe tão escrutinada como o seu, digamos, congénere alemão. Desta forma, VIDEOCRACY permite-se ser uma espécie de plataforma para repensar estas linhagens, questionar o papel dos sorrisos e sobretudo encetar um projecto de renovação identitária que a Itália ainda não abraçou desde o pós-guerra.
Gostei muito disto, obrigada Carlos!!
ResponderEliminarO documentário, VIDEOCRACY, é realmente impressionante e muito válido para pensar a relação das massas com a tirania televisiva e as formas de congregação de um poder dominante, que age com tantos tentáculos, a maioria deles invisível. Muito interessante para analisar e comparar com a evolução da oferta televisiva em Portugal!
(Se me permites, vou linkar este texto. Cumprimentos!)
Obrigado Sabrina. Sim é impressionante o que podemos perceber através deste filme. E ele enquanto objecto artístico não é nada de especial...
ResponderEliminar