Ariel (1988), o filme do meio da “trilogia do proletariado” - entre Shadows in Paradise (1986) e The Match Factory Girl (1990) – do finlandês Aki Kaurismaki é um magnífica mestiçagem de série B norte-americana e um propósito praticamente neo-realista. Dizemos “propósito” e “praticamente” porque o seu lado hiperbólico, atentíssimo ao deslize incongruente de uma Finlândia em crise (dos eighties a 2010 num passinho) é dotado de um visceral e fabricado humor negro, onde apenas há uma vaga intenção, única ideia que acaba por se manter como “real”. O meio onírico, esse, viaja para momentos em que a noção que o finlandês possui da economia narrativa é o traço mais característico, aquele que mais se retém.
Após o suicídio de um companheiro de trabalho nas minas, Taisto (Turo Pajala) aceita o seu conselho de mudar de vida. Levanta todo o seu dinheiro e parte no descapotável que aquele lhe deixou. Se a garagem do qual parte literalmente se desfaz, umas horas depois Taisto vê-se na típica situação kaurismakiana: proprietário de um descapotável mas sem dinheiro e sem sítio onde dormir. É pois o momento de descer na escala social e de justificar a proletarização da história, com a luta do protagonista pela sobrevivência. Às dificuldades de trabalho e injustiças de sistema, Kaurismaki responde sem revolta, aceitando-as com o laconismo do seu anti-heroi que expõe o ridículo de uma crise estrutural. Ainda voltando à noção de economia narrativa, o filme tem 73 minutos, esta não é só uma marca de cinematografia B, mas aqui sobretudo uma contenção da imagem, da reacção das pessoas no mundo fechado do autor. Numa espécie de apologia da brevidade, (Pascal elogiar-lhe-ia o talento certamente) Aki Kaurismaki consegue passar do mais aterrador - o medo que uma criança tem de ser abandonada pela mãe (“Não te esqueças de telefonar…”) ao mórbido humor da sequência da morte de Mikkonen - numa questão de minutos. Deixamos aqui a referida sequência que é certamente um dos expoentes da arte de Kaurismaki.
Após o suicídio de um companheiro de trabalho nas minas, Taisto (Turo Pajala) aceita o seu conselho de mudar de vida. Levanta todo o seu dinheiro e parte no descapotável que aquele lhe deixou. Se a garagem do qual parte literalmente se desfaz, umas horas depois Taisto vê-se na típica situação kaurismakiana: proprietário de um descapotável mas sem dinheiro e sem sítio onde dormir. É pois o momento de descer na escala social e de justificar a proletarização da história, com a luta do protagonista pela sobrevivência. Às dificuldades de trabalho e injustiças de sistema, Kaurismaki responde sem revolta, aceitando-as com o laconismo do seu anti-heroi que expõe o ridículo de uma crise estrutural. Ainda voltando à noção de economia narrativa, o filme tem 73 minutos, esta não é só uma marca de cinematografia B, mas aqui sobretudo uma contenção da imagem, da reacção das pessoas no mundo fechado do autor. Numa espécie de apologia da brevidade, (Pascal elogiar-lhe-ia o talento certamente) Aki Kaurismaki consegue passar do mais aterrador - o medo que uma criança tem de ser abandonada pela mãe (“Não te esqueças de telefonar…”) ao mórbido humor da sequência da morte de Mikkonen - numa questão de minutos. Deixamos aqui a referida sequência que é certamente um dos expoentes da arte de Kaurismaki.
Sem comentários:
Enviar um comentário