quinta-feira, 29 de novembro de 2018

A arte de desencorajar

« Não deveríamos ter medo de ler demais ou de menos. Seria aconselhável entregarmo-nos à leitura da mesma forma que nos alimentamos ou fazemos exercício. O bom leitor será atraído pelos livros bons. Descobrirá com os seus contemporâneos o que é inspirador, ou meramente aprazível, na literatura do passado. Seria desejável que tivesse o prazer de fazer essas descobertas por si, à sua maneira. O que tem valor, encanto, beleza ou sabedoria, não pode ser perdido ou esquecido. Mas as coisas podem perder todas estas qualidades se nos arrastam para elas pelos cabelos.Não repararam já, depois de muitas angústias e desilusões, que, ao recomendar um livro a um amigo, quanto menos dissermos melhor? Sempre que louvamos demasiado um livro, suscitamos resistência no nosso ouvinte. Temos de saber quando devemos ministrar a dose e em que quantidade – e se esta tem ou não de ser repetida. Refere-se frequentemente que os gurus da Índia e do Tibete praticaram durante séculos a importante arte de desencorajar o ardor dos seus futuros discípulos. O mesmo tipo de estratégia pode ser aplicada no que respeita à leitura de livros. Desencorajem um homem de maneira correcta, isto é, com o objecto certo em vista, e ele enveredará pelo bom caminho muito mais depressa. O importante não é que livros, que experiências um homem deve ter, mas o que deposita neles de si próprio. »

Henry Miller

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