sábado, 17 de dezembro de 2016

As mil expressões de uma angel face












Não, não estou embevecido pela carinha da Jean Simmons no "Angel Face", embora seja culpado de procurar obssessivamente stills das suas expressões no filme. Segundo parece ela tinha cortado o cabelo para irritar o Howard Hughes que, em final de contrato com ela, ainda queria usá-la em mais um filme antes do prazo terminar. Não teve sorte, usou peruca neste derradeiro Preminger para a RKO antes do realizador se tornar produtor independente. Um filme sobre um anjo de cara fria, um pequeno demónio tentador para Mitchum, acenando vagamente a bandeirinha da psicanálise e do incesto às audiências dos anos 50. Mas o mais extraordinário para mim é que seria fácil a Simmons, ainda para mais contrariada no projecto, trabalhar a oposição superficial: expressão de inocente por fora, demónio sem escrúpulos por dentro. Não é isso contudo o que faz Simmons, ela vai oscilando entre o ar alheado, o olhar frio, a face arrependida, a mulher martirizada, a bitch maléfica, a filha calculista, a jovem birrenta e desejosa do corpo de Mitchum. São muitas hipóteses e não é nenhuma afinal. Nunca ninguém há-de saber o que sentia em relação a todas aquelas personagens (paizinho "querido" incluído). Por isso é que aquele abismo final, no qual Preminger faz cair sucessivamente todas as personagens, é afinal o poço inesgotável das expressões de Simmons. Um anjo nas profundezas, um demónio nas alturas.

4 comentários:

  1. praiza Simmons (como é costume, não vi nada, e nãoo sinto culpa alguma por não ter visto, mas tenho vontade de ver :)

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    (muitos anos a cuidar de duas filhas e a trabalhar como uma moura dão nisto, que começou numa cinéfila empedernida :)

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  2. Se quando tiver filhos deixar de poder ler e ver filmes, Senhor leva-me já :)

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  3. Não digas isso, Carlos, terás sempre o Paulo Varela Gomes (e não brinco :)
    E um beijo, que és das pessoas blogueiras/istas/whatever que mais prezo :)*

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    ah, E NADA DE SENHORES COM MAIÚSCULA :p

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  4. Estava a brincar mas de facto as obrigações familiares tiram-nos tempo, tempo esse que ganhamos de outra forma. Caraças, não posso gastar mais dinheiro em livros este ano. Resolução para 2017: comprar um livro do PVG. beijinhos

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