sábado, 26 de dezembro de 2015


Tudo o que não é literatura aborrece-me –
queixava-se um checo muito conhecido.
As nossas vidas, aliás, deviam acontecer sempre no futuro,
onde, no fundo, sucedem todos os romances.
O nosso estilo teria a nitidez dos tratados científicos
e a força da descrição de uma batalha –
embora os críticos tentassem
transformar tudo isto num relatório criminal
ou no argumento para um filme de Domingo à tarde.
O Eduardo Prado Coelho era capaz de fazer isso. 


Mas é preciso fugir ao máximo dos museus de cera,
perseguir os funcionários públicos do senso comum,
evitar que as mulheres feias tenham filhos.
Aliás, é urgente matar toda a gente que tem fome.
Por isso, não me venhas com xaropes e bancos alimentares.
Não me trates as doenças.
Não levantes a mão.
Vem, vem apenas,
come as you are
- embora seja tarde.


Vem para esta sala de baile com portas cheias de musgo
e vozes molhadas em tabaco.
Vem passar uma noite nos seus cantos húmidos
onde coronéis e generais
levantavam as saias à história.


Já tirámos os cavalos,
já limpámos as trincheiras. 


Vem ralar na minha pele arrepiada
a cor pálida da lua
como se fosse a casca de um limão.


Vem sem falta –
o palco está vazio,
a sala cheia.
Com o passo lento das derrotas,
um macaco vestido de Shakespeare
conduzir-te-á até ao último acto. 


Golgona Anghel

5 comentários:

  1. És um cão do pior. De gajas boas estás tu bem documentado, mas do filme que te pedi nem notícia.

    São prioridades que compreendo.

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  2. ah ah, Juro que já dei volta à cabeça mas não estou a ver que filme é esse... Vou ter que reunir o concílio dos deuses cinéfilos para ver se apuro uma resposta para o teu enigma. Aguarda mais um pouco :)

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  3. O concílio está em deliberação mas é isto?

    http://www.imdb.com/title/tt1426368/

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