quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Sobre a agonia da comunicação social

Fale-se de fundações, mecenato e crowdfunding para salvar a comunicação social, está tudo muito bem. Mas por favor não me venham com a questão dos suportes. Aliás, a solução corrente não tem apenas o digital como alvo. Ela tem vindo, grosso modo, a tratar o jornalismo como trata a arte: os "inúteis" têm de ser subsidiados. Ora, apoio a solução, é uma questão de sobrevivência. Mas há que ter olho alerta para este "empurrão" da comunicação social para o campo da arte no que toca aos seus modelos de financiamento. É um bem comum? Claro que é. Aliás, nunca deixou de o ser. Esse é mesmo o problema. Estas soluções têm o condão de vermos recuar perante a lógica económica a fronteira de um pensamento crítico. Antes a arte era ineficaz, sim, percebe-se. Mas agora coloca-se o problema da ineficácia do jornalismo. Ineficaz? Para quem? Para quem detém a empresa que sabe que se deve escrever o que lhe dá dinheiro ou nada... E a isenção, o código deontológico e a dúvida necessária à investigação? Ineficazes pois. O dilema do jornalismo mostra como recua para o território da ineficácia económica o pensamento crítico, qualquer que ele seja. Estes modelos de gestão — num processo crescente de matematização e economicização integral do mundo e de todas as áreas do viver — fazem recuar perigosamente todos os valores críticos e de discernimento para a esfera da ineficácia. Cabe então ao milionário, máximo jogador do sistema da eficácia, abrir pontualmente os cordões à bolsa, deixando existir o que é realmente humano ali no "parquinho-fundação" que ele criou, para que todos o vejam como o santo e benemérito do seu tempo.

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