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A imobilidade de Aaron, centro da tragédia, convoca uma passagem por diversos estádios: esperança, organização, desespero, luta pela sanidade, etc. Contudo, desde o genérico inicial, movimento cosmopolita plasmado com world music, percebemos que Boyle tem pouca confiança nesse tipo de imagens, que se sente pouco à vontade com a tensão dramática e que ao invés prefere divagar e intermediar entre o drama e o espectador o seu «estilo». Trata-se de um caso nada raro de uma verdadeira obsessão pelo movimento (e nesse sentido nenhum filme com premissa tão «presa» acaba por ser tão diletante, tão esvoaçante) e sobretudo pela necessidade de extrair da realidade consequências bigger than life bacocas. Daí cairmos rapidamente na apressada reflexão sobre o jovem que acaba numa situação destas porque, e só porque, não dá a devida atenção às pessoas que o rodeiam. Por isso, não disse a ninguém onde ia naquela fatídico dia e nenhumas esperanças em ser salvo. Uma mensagem de sociabilidade. Sim, por certo. Mas porquê? Para quem? Para quê?
É curioso ainda perceber que essa estética e obsessão morais engolem todo o filme inclusivé a interessante ideia de que Aaron decide filmar-se a si próprio durante todo o processo de sobrevivência e/ou morte eminentes. O que é um digno acto de registo, de alguém que nos derradeiros momentos de vida se augura em historiador de si próprio, passa rapidamente a fazer parte do reality show montado, onde a eminência da morte, o sonho, as lembranças, o passado, é tudo filmado com o mesmo desprimor. Um bom exemplo é a forma como passamos dos momentos em que Aaron se filma à decisão de Boyle de fazer um plano do interior do braço que está prestes a ser decepado. Mostrar sempre mais, para dentro, na ilusão de que o ver mais, e mais rápido é o que mais move o espectador. Longe vão os tempos onde a ilusão do movimento e da fantasmagoria era suficiente.
Assim, 127 HOURS consegue o mais difícil, banalizar uma situação de excepção. É pena.
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vi hoje. concordo em absoluto.
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