Cabeça de câmara, olhar de ‘peephole’
“Mal fui libertado do ventre da minha mãe, descobri-me enclausurado no meu próprio corpo. E logo tomei consciência que estava fechado num corpo que, por sua vez, estava encerrado numa casa, ela própria enclausurada num país.” Março, 2020, Portugal. Compreendemos. Identificação primária. As nossas cabeças, caixas dos nossos pensamentos, estão dentro de corpos cujas casas estão encerradas. Estados de emergência presos a uma justificação: entre o “ainda não” e o “já vai tarde”, entre o odor do autoritarismo e o odor dos mortos potenciais, dos corpos ainda não encerrados. A citação pertence à voice over de um filme extraordinário, Boro in the Box (2011), um biopic de uma bio fantasmática, de um cineasta polaco morto: Walerian Borowczyk. O autor, um tresloucado genial chamado Bertrand Mandico.
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