domingo, 17 de agosto de 2025

O dom

 

Nos caminhos mais íngremes, as respostas mais certeiras. Pelo contrário, nos trilhos mais amenos, as perguntas mais acesas. Disse-lhe que tinha jeito com pessoas, a palavra no lugar certo, convidar as pessoas a bordo para o paraíso ou a borrasca. Rodeámos a igreja enquanto falávamos de dons, aquilo que aquele que lá estava dentro nos dá, ou, em acreditando, aquilo que a natureza nos oferta e nunca nos tira até ao sopro final. Ela sabia do meu dom. Qual é?  Interessa-nos o dom como dádiva, compreender aquilo em que somos melhores a dar, a devolver, pois receber tem tédio e não faz sair do lugar. O meu preto vai sempre à frente, não quer saber de dádivas, já deu quase tudo. Chegar a casa é a prenda do dia. A manhã ainda está quente, os caminhos ofegam com a falta de oxigénio fresco. Ela diz-me que tenho de arranjar tempo, que é afinal um espaço, para contar a toda a gente estes passos, estes passeios, com cheiro daquele presente que sempre parte, mas que assim fica plantado no tempo, a florescer. No final da minha outra extensão, o meu castanho aspira tudo com uma majestosa felicidade. Daqui a um minuto regressaremos e ele sabe qual o nosso dom. Todos os dias, ao recebê-lo, sorri.

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