quinta-feira, 5 de março de 2015

The Glass Cage


Ao ler o novo livro de Nicholas Carr, The Glass Cage, sobre os problemas da automação naquilo que de pior têm- expropriar-nos do trabalho e da decisão como rugas problemáticas e condição essencial ao nosso desenvolvimento - não pude deixar de pensar numa imagem-sonho que tenho para mim como expoente de um cenário pós-apocalítico do tecno-pessimismo. Não se trata da clássica inversão, o homem vai ser controlado pelos robots e vamos ser aniquilados. Na verdade esse controlo existe, ainda que numa dinâmica muito própria, desde a roda ou o fogo. A imagem é a de um homem num cenário todo negro apenas com um comando na mão e mais nada. Na minha mente isso representa o estado em que o mestre submeteu a técnica como escrava eliminando tudo o que há para fazer. Quando tudo tiver sido resolvido e estivermos condenados ao lazer total e eterno vamos desejar que esse comando, símbolo da despreocupação e da libertação final das agruras da vida, se torne uma arma com o qual nos possamos suicidar.

Fiquei um pouco desiludido com o livro de Carr (sobretudo porque o anterior me tinha aberto a pestana) e a incapacidade de evitar um acérrimo tecno-pessimo. Só falta a Carr dizer que devemos destruir os computadores armados em defensores do neoludismo como única forma de salvar o futuro e a subjectividade. Embora eu também seja mais pessimista do que optimista, ambas as posições face ao destino do avanço tecnológico se infectam de uma certa arrogância. Os optimistas acham que o novo é imparável e é sempre melhor porque crêem numa ideia de progresso, achando que nunca vamos ser capazes de terminar a nossa existência. Os pessimistas, contrariamente, querem de forma intensa e nostálgica voltar atrás com receio do fim da narrativa, do discurso. Em ambos impõe-se uma continuidade ou uma finitude implacável ao agir tecnológico.

Ora, se somos um grão de areia no universo, já devíamos saber que não somos lá muito especialistas em determinar inícios e/ou fins. Por isso, o media res é o que temos e é aquilo que nos deve guiar naquilo que também apenas temos: um caminho finito que pode continuar ou acabar a qualquer momento.

5 comentários:

  1. Depois de ler o teu post, lembrei-me imediatamente do livro do Samuel Butler.

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  2. Olá, estive agora a ler um pouco sobre Samuel Butler e presumo que estejas a falar de "Erewhon"? Não conheço, mas fiquei curioso. Obrigado pelo comentário :)

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    1. Erro meu, que me esqueci de mencionar o título. Sim, o Erewhon. Gostei muito (li em português).
      http://www.gutenberg.org/files/1906/1906-h/1906-h.htm

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  3. Desculpa, deixei-te sem resposta...obrigado pelo link, fiquei curioso, quando tiver tempo hei-de espreitar :)

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