quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

We Live in Public

Os olhos das pessoas terminam nos eléctrodos do cérebro,
Terminam nos pixéis da ternura.
Adeus electrónico, sem uma só batida vermelha.
Ver-me a ver-me.
Ninguém ou toda a gente.

Aberta está a quarta dimensão,
a quarta parede.
A moralidade como terceira ideia sobre as acções, como uma tecla.
Uma pausa, um “frame by frame” que congela.
Que na ânsia do outro e de si, expõe com mais força:
a flor, o vómito ou a santidade da eloquência pornográfica.

O futuro tem uma corrente maiúscula que acorrenta o pensamento, a vontade.
Isso, porque à distância de anos só há contornos e uma criança de perfil é carvão.
Ver-me a ver-me a ver-se a ver-me é trompe d’oeil moral que distrai.
Destruir hierarquias é expulsar a construção das nossas mãos,
É ter os espaços minados
de uma horizontalidade que é preciso atravancar:
com coisas que nos façam vir por fracções de segundo.

Viver em público é tentar matar esse anonimato. E quando todos esses seres que emprestam a sombra à noite se forem,
Quando só existirem estrelas sem brilho,
Começará uma nova busca pelo anonimato.
Nesta realidade em rede os anónimos serão as estrelas.

Viver aleija. Viver com toda a gente a querer viver mais,
aleija ainda mais.
Por isso, o virtual constrói o mundo sobre o mundo, menos feroz.
Será uma questão de tempo até o virtual detectar o seu bug supremo: o humano.
E Frankenstein triunfará, de novo.

Morreu Deus. Matámo-lo.
Morrerá o homem. O virtual extingui-lo-á.

Ou antes, nesta luta não estou certo quem vencerá.
Estas elaborações, no betão ou no virtual,
São sintomas de impotência.
Sem poder saber se há uma verdade, como Deus,
Vamos abrindo portas.
E quando elas estiverem todas abertas será impossível caminhar.

Um só passo trará o desespero ao mundo e
a dor da ausência de todos os outros passos não percorridos.

A virtualidade torna o mundo paralítico.
Aqui como ali mas inerte.

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