Depois de ver Magic in the Moonlight, o tradicional
Woody Allen anual que só agora pus em dia, tenho de começar a pensar em
dar o braço a torcer àqueles que por aí vão menosprezando todos os seus
filmes depois Hollywood Ending ou Match Point. As costuras à mostra nesta batalha entre a razão e o transcendente, a graça a meio gás, o twist mecânico, o abrupto happy ending
com as pancadas de Molière convertidas em pancadas de mulher. Seja como
for fiquei com vontade de, possuído pelo espírito Daniel Oliveira, perguntar a
Allen se ele se estará a pensar converter naqueles velhinhos que perto
do fim começam a ver a luz e a acreditar que há qualquer coisa para além do
que os nossos olhos alcançam. Depois da relativização da vinda do estranho alto e vestido de negro e da ideia de que tudo vale a pena se a alma não é pequena mas o corpo se torna pequeno (Whatever Works, 2009), começa a ser insistência a mais numa ideia de fim que procura uma certeza qualquer. A meio de Magic in the Moonlight
a metafísica que até então estava a pousar pela primeira vez na vida o
sobrolho de Colin Firth parece levar uma rasteira e nós pensamos, ah,
finalmente Allen está de volta ao cepticismo dos vivos e pujantes. Mas depois tudo se re-ameniza e
ficam dúvidas sobretudo quando, de filme para filme, a metafísica ameaça
ser derrotada de forma cada vez mais vitoriosa.
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