sábado, 31 de janeiro de 2015

Advogado do diabo

Fascinam-me os advogados do diabo. Aqueles que, por natureza retórica ou fraqueza interior, fazem do debate um mero mecanismo de poder. Aqueles que, procurando o contrário de A para se fazer valer perante o autor de A, podem até mentir. E mentir-se quando num súbito instante se transformam em defensores da causa de anti-A. Há que dizê-lo, que, por vezes, a necessidade do argumento contrário fomenta a convicção. Mesmo assim, a procura da batalha da discussão como protótipo de sociabilidade, na qual há que emergir um vencedor, não pode fazer esquecer que o conteúdo daquilo que se diz, frequentemente exige aquilo que se chama: o "concordar". Os advogados do diabo são incapazes de concordar pois isso é dar a mão à palmatória.

Se fizer o exercício de ser advogado do diabo de mim próprio posso dizer que talvez estes estejam, ao procurar o oposto, apenas a dar rugosidade à conversa, a promover um instante de dificuldade que entretenha a mente. Contudo, se esse "esforço" for canalizado para a procura do que se aceita e não se aceita numa posição contrária, poder-se ia obstar à imobilidade do conhecimento. O advogado do diabo odeia conhecer o novo, pois essa "invasão" da sua safety zone implica encontrar novos anti-corpos que o combatam e que promovam o antigo e já despedaçado eu como ditador absoluto de uma nova população de eus, clamando revolução.

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