Quando se fala em aura, esse conceito exausto, pontapeado pela história e
arrastado pelos cabelos da arte, falamos também, ou sobretudo, em
proximidade e distância. A queda da aura não é senão sinal da patologia
da proximidade que elimina qualquer longe, encolhe o espaço e tudo amalgama. O multitasking do ser produtível e rentável (herdeiro do caçar, comer, cagar, lutar dos animais e sua sobrevivência), o
colapso da alteridade, a liberdade suprema com o revés da tenaz coação interior,
colocam a aura como condição do amor. Enquanto tudo for estando cada vez
mais perto, enquanto tudo estiver ao alcance do toque, na perversão
máxima do princípio da igualdade ante o universo, a distância ou a "subtil
impossibilidade" que antevia a diferença entre o eu e o outro, ou entre
isto e o aquilo, torna-se impossível. Quando não há outro para amar, ou
quando esse "próximo" do "amar o próximo" devém próximo demais ao ponto de devir-eu, só
me posso amar a mim próprio no indistinto reflexo narcísico da minha
própria insistente presença.
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