Num dos melhores filmes estreados em Portugal no ano passado, L’image manquante (A imagem que falta, 2013),
o seu autor Rithy Panh propôs-se criar imagens animadas para o massacre
cambodjano levado a cabo pelo regime de Pol Pot ante o facto de imagens
do real não existirem a partir do qual se pudesse contar a sua
“história”. Com Claude Lanzmann o dilema parece ser um pouco o inverso:
não há história contável com as imagens do Holocausto que sobrevivem (as
“found footage”) que possam resistir à tensão entre a “estética negativa do inimaginável”
do grande trauma e a mistificação do que não se pode ver ou dizer.
Perante isto, Lanzmann, um homem de acção, propôs-se investigar, ouvir,
montar, “matar com a câmara” os protagonistas das atrocidades e suas
vítimas erigindo um “monumento cinematográfico” que rejeita qualquer
espécie de espectador ou olhar sagrado e que, ao erguer-se, tem muito
mais a força de uma resposta bélica ao espírito do que não podia ter
ocorrido mas ocorreu. Shoah (1985), a catástrofe, era
isso e produziu na vida do cineasta uma missão como arborescência do
qual até hoje não se conseguiu livrar. Le dernier des injustes
(O Último dos Injustos, 2013), daí decorre, dessa proliferação de
imagens e testemunhos, cada uma com uma ideia de justiça pessoal pronta a
tornar-se filme.
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