quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

The Theory of Everything

Rezam as boas línguas que quando Stephen Hawking viu finalmente The Theory of Everything (A Teoria de Tudo, 2014) a sua biografia baseada no romance da sua ex-mulher “Travelling to Infinity: My Life with Stephen”, uma enfermeira limpou-lhe uma lágrima que escorria do seu rosto. Não era para menos até porque James Marsh que até trabalha sobretudo no registo documental [em 2008 ganhou um óscar por Man on a Wire (Homem no Arame)], tendo visto o telefilme da BBC de 2004 com Benedict Cumberbath a fazer de Hawking e o de Errol Morris de 91, A Brief History of Time, decidiu apostar em três focos menos explorados: a decadência de um corpo afectado pela “doença do neurónio motor”; os feitos de Hawking no campo da física; e, por fim, a história de amor que o uniu durante 25 anos a Jane Hawking. Sobretudo o primeiro e o último são temas universais que Marsh sabia poderem servir um filme de cariz mainstream que homenageasse a vida do génio britânico. E homenageou.

Além do affair das lágrimas que certamente se multiplicarão por esse mundo fora com as mensagens de código universal “enquanto há vida há esperança” ou o verdadeiro “amor que triunfa apesar das adversidades”, há uma outra questão bem mais bicuda que o filme de Marsh suscita. Aos olhos do leigo, assim como é tentador descobrir como passa o artista da inspiração criativa à genial criação, também é grande a vontade de perceber o enigma da passagem do homem comum ao homem acima dos mortais. Como mostrar esse passo de gigante, a visualidade do que é isso de ser um génio? Neste aspecto não há nada de especial por aqui a reter ficando apenas a ideia de que o génio que o espectador quer que se lhe apresente é esse homem de todos os dias que ama, que brinca com os filhos, que se compromete com uma causa. É a humanidade em todo o seu esplendor, de novo.

Este ano se não for Micheal Keaton a ganhar o óscar [na narrativa tradicional do cameback do actor tornado mito que retorna meio amassado das trevas: há uns anos foi Mickey Rourke com The Wrestler  (Wrestler, 2008), lembrem-se] a luta parece ser entre quem é o mais génio? Ou, perdoem-me a expressão, quem é o mais deficiente. Na corrida estão Eddie Redmayne na cadeira de rodas como Stephen Hawking e o já referido Benedict Cumberbath, retratando o olhar vago e maquinal de Alan Turing. Como já tinha escrito a propósito de The Imitation Game (O Jogo da Imitação, 2014) falamos destas prestações como de corpos especiais, mais do que seres de estirpe superior.


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