Era preciso que alguém fizesse o
catálogo dos brilhos. A criança que brilha quando o pai chega a casa do
trabalho, o jovem que brilha da cara quando lhe pedem uma opinião. Nem tudo o que o reluz é luz. De onde vem
o brilho dos desarranjados pela vida, com uma excessiva humidade, palco do qual
quem olha é quem desfolha o brilho imóvel do pavor? Ser apanhado num minuto de
diamante e insanidade declarada. Brilho fosco e imóvel preso na máscara da
loucura e das ervilhas. Um catálogo dos brilhos, como um projecto, talvez seja
excesso de minúcia, até porque brilhos há que, estando à vista, denunciam a
irremediável distância. Catalogar as estrelas, a loucura, os brilhos, tudo
sobrecarregando as costas do verbo. Observar antes o
brilho da tarde de um frio estúpido, ficar, reter, encher o brilho da neve para
o brilho da córnea, dirigi-lo a 67.657 mais estes quilómetros, da boca que come
para a boca que é um mobiliário antigo de dentes. É esse o irremediável brilho
do que passa. Passou, incandescente.
Tão bom.
ResponderEliminar"Brilho eterno de uma mente sem lembranças; Toda prece é ouvida, toda graça se alcança." Alexander Pope