Stephen Hawking |
Já tinha ficado mais ou menos claro no filme de Morten Tyldum sobre a vida de Alain Turing, The Imitation Game -
nomeadamente no ênfase que dá ao desenquadramento da figura do
matemático no seu agir e no seu pensar maquínico com tradução posterior
em cenas de "celebração da sua diferença" e de piedade emocional para
com o seu trágico destino da castração química - que existe um fascínio
da História pelos pormenores mais ou menos sórdidos, e em muitos casos
laterais, dos discursos que mudaram o mundo.
Em The Theory of Everything, um
filme sobre a vida do cosmólogo Stephen Hawking, esse fetichismo
ritualizado atinge patamares ainda mais evidentes. A progressiva
deterioração do corpo de Hawking (e crescente dependência das máquinas
que suportam o seu brilhante cérebro) parece ser inversamente
proporcional ao interesse que o espectador (e o mundo) dá à sua figura.
Isso leva a pensar na " vontade de verdade" do sujeito do discurso que,
dizia Michel Foucault, podia mascarar a própria verdade. Essa máscara
que, entre outras coisas, supõe um ritual (ritual esse que Foucault também distinguiu como um dos constrangimentos internos ao próprio discurso)
de gestos e voz artificiais, de limpeza, de locomoção do próprio físico acaba por
funcionar como elemento sedutor que permite inverter o raciocínio do
francês.
Se em muitos casos a "vontade de verdade" mascarava o dizer da
verdade, no caso no Hawking é a verdade do seu corpo ausente e da sua
parafernália de metal que o envolve, o "altar" a partir do qual se
constrói toda uma "vontade de verdade". Pergunta inocente e ignorante:
seria Stephen Hawking aquilo que é se não fosse aquilo que aparenta?
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