"O quê?" é a pergunta favorita dos historicistas. Sujeitos de
natureza anal que procuram acalmar a inquietude motivada pelo caos,
espremendo, compilando, organizando aquela ficção dita, o real. Procuram
saber o que afinal se passou (mas ter-se-á passado alguma coisa?),
esclarecer o mistério. Nessa tarefa infinita estão atrelados aos acontecimentos,
como burocratas arrumadores do passado, deixando, não raras vezes, que a
sua obsessão pela ordem contamine o próprio propósito da tarefa,
isto é, a iluminação de uma clareira na floresta negra e escura dos
factos. Nessa tarefa há a vantagem do apaziguamento, a ilusão de lidar
com algo palpável, causal e de estar absorto, ocupado, com a organização
de um puzzle de peças numeradas pelo utilizador, tentando, em vão, apagar a voz activa na composição e no jogar do jogo.
"Como?"
é a pergunta favorita dos filósofos. Não percebendo mais da verdade do
que de mulheres (como dizia Nietzsche) e descurando a quantidade das
coisas que se passaram para tentar compreender como é que o sol incide
todos os dias no dito puzzle de verde e sombras chamado floresta dos
factos. Tarefa maior, aparentemente maior, de uma observação criativa, da constituição de
uma cola semi-divina para as coisas que o olhar encontra. As
desvantagens da visão do filósofo, pode dizer-se, colam-se à dificuldade em
extrapolar com propriedade face à cola de cada um. E assim ser capaz de agregar
mais do que um ser humano e os seus estilhaçados pensamentos num sistema que não ponha o sedutor argumentário político no topo da mesa.
Em
ambos os casos, quer no do historicista, quer no do filósofo, está em
causa um ponto de vista fixo, uma lente não progressiva para observar o
mundo. Nos primeiros, o close up para desencantar as texturas, as
nervuras do acontecimento, o pormenor que bloqueia. Nos segundos, o
plano geral, ou em muitos casos, um bird's eye para observar the big picture, o contorno de um movimento geral que tudo engloba e tudo "explica" (e implica).
Em
ambos os casos está presente a evidência de que o olhar é tanto uma
questão do que está em campo como fora dele, tanto uma questão da
materialidade organizada como da imaterialidade desorganizada. Aos dois falta a habilidade do zoom, a progressividade dos olhares.
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