sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Love laughs at locksmiths


Cops - Buster Keaton e Edward Cline (1922)

No primeiro plano de Cops (1922), Buster Keaton surge enquadrado sob grades de ferro. São de um jardim mas ele não está menos preso, uma vez que o seu amor, que se encontra à esquerda do plano a falar com ele, lhe diz que só quererá casar, caso este se torne um big business man. Nos outros 21 minutos do filme, Keaton e Edward Cline encenaram algumas das mais engenhosas cenas de perseguições com centenas de polícias de fato negro a irromperem em correrias desenfreadas pelo quadro tentando alcançar aquele que pensavam ser um anarquista bombista que lhes perturbou a parada policial. Ou seja, um dos emblemas da história do cinema no retrato (pitoresco, é certo) da perseguição policial, persegue incansavelmente alguém que preso estava já de início. O falso criminoso, que falsamente rouba um homem na rua, que falsamente desaparece com as coisas de um casal em mudanças, que falsamente manda uma bomba (da qual se havia servido antes como isqueiro) em praça pública, é o verdadeiro preso que, no final (escapando àqueles que o podem prender materialmente, mas não escapando da prisão sob a qual se encontrava já) decide entrar de livre vontade na esquadra. Junta-se assim às centenas de polícias que ele próprio havia prendido na prisão e resta-lhe ali ficar, sem amor, sem esperança, até que surja o "the end" sob uma lápide. 

Cops é uma comédia sobre a libertação, sobre a incapacidade de escapar. Tudo no filme supõe o avanço, a corrida, a progressão mas pouco ou nada sai do sítio. Por isso também empaca o cavalo que Buster compra erradamente a um transeunte e que lhe leva as coisas que erradamente leva como suas. Por isso liberta-se ele de um baú onde num gag um agente o achava preso. Mas o baú não tinha fundo e Keaton escapa. Ninguém pode prender Keaton, assim como ninguém consegue libertar Keaton. Mas no intertítulo inicial, mesmo antes das grades, já estava tudo explicado: love laughs at locksmiths.

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