Fascinam-me os advogados do diabo. Aqueles que, por natureza retórica ou
fraqueza interior, fazem do debate um mero mecanismo de poder. Aqueles
que, procurando o contrário de A para se fazer valer perante o autor de A,
podem até mentir. E mentir-se quando num súbito instante se transformam em
defensores da causa de anti-A. Há que dizê-lo, que, por vezes, a
necessidade do argumento contrário fomenta a convicção. Mesmo assim, a
procura da batalha da discussão como protótipo de sociabilidade, na qual há que
emergir um vencedor, não pode fazer esquecer que o conteúdo daquilo que
se diz, frequentemente exige aquilo que se chama: o "concordar". Os
advogados do diabo são incapazes de concordar pois isso é dar a mão à
palmatória.
Se fizer o exercício de ser advogado do diabo de mim próprio
posso dizer que talvez estes estejam, ao procurar o oposto, apenas a
dar rugosidade à conversa, a promover um instante de dificuldade que
entretenha a mente. Contudo, se esse "esforço" for canalizado para a
procura do que se aceita e não se aceita numa posição contrária,
poder-se ia obstar à imobilidade do conhecimento. O advogado
do diabo odeia conhecer o novo, pois essa "invasão" da sua safety zone implica encontrar novos anti-corpos que o combatam e que promovam o antigo e já despedaçado eu como ditador absoluto de uma nova população de eus, clamando revolução.