Há uns anos lembro-me de estar em casa do meu pai, com um amigo dele já na casa dos noventa anos. Ele estava de visita, ali na zona da Portela, junto ao aeroporto, e olhava pela janela, contemplando os prédios rectangulares, brancos e castanhos, construídos nos anos 70. A dada altura disse, elogiando as ditas construções: "isto é importante!". Para alguém que nasceu e passou parte da juventude ali, aquilo soava-me a manifesto exagero. Há pouco tempo, a ver o filme "Dom Roberto" de Ernesto de Sousa, Raul Solnado, espécie de Roberto Begnini português, utilizava a mesma expressão, com ênfase: "isto é muito importante!", referindo-se ao seu trabalho imaginário de guarda e à casa meio destruída em que habitava com a sua companheira. Automaticamente pensei na expressão do amigo do meu pai e de como esta podia afinal ser uma expressão de época. Mas também uma exteriorização de uma certa condição de humildade e reconhecimento. Muitas vezes as coisas não se tornam importantes só porque as nomeamos. Mas há excepções: a expressão "é importante" pode ser, de facto, importante. Sobretudo porque ela não se dirige tanto às coisas, e mais a uma dada forma de olhar em volta.
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