Foi só no último plano de Dark Star, em que Doolittle
pega num destroço da nave e vai a surfar para a morte como uma estrela
cadente em direcção a um planeta vermelho que parece pintado a caneta de feltro,
que me voltei a lembrar de como a primeira longa de Carpenter é um delírio
absurdo e genial. De resto, como todos os grandes delírios. Durante o filme há tanta coisa a acontecer que nem se dá por nada. É como aquelas anestesias temporárias. Quando puxo a cassete atrás e penso nos diálogos entre o nihilismo de Beckett e o macho love de Hawks, no prenúncio de Alien num killer tomato
- bola de praia com patinhas, na falta de memória como se fosse Sokurov
na zona, no morto-vivo criogenado e nas "bofetadas" a Kubrick, com a sua
bomba a fazer as vezes do Hal 9000, e a Nolan, em que o uso do "do not
do gentle into that good night" ao serviço de um humanismo parvinho é
substituído pelo ensino da dúvida cartesiana à dita bomba - é impossível não se cair em si. Tudo somado é obra. Não restam dúvidas: Dark Star é obra de um demente. Ou então, é obra de um génio.
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