Há todo um exército de paralelismos geniais que cercam o filme Assault on Precint 13 que vão de Romero a Rio Bravo. Talvez seja um pouco mais seguro trancar o pensamento nas linhas rectas, ou seja, aquém do momento
do assalto propriamente dito. Aquela cena em que vemos as janelas da
esquadra a serem destruídas, papeis pelo ar, o desenho das balas nas
paredes e não vemos ninguém... (e pouco ouvimos... pois os maus usam
silenciadores), essa cena, digo, parece quase cinema experimental com
Carpenter a filmar o movimento invisível e mágico dos objectos a mexerem-se
sozinhos. Só que essa "magia" é o tema de Carpenter, a ameaça
silenciosa e invisível que sobre nós avança, como o nevoeiro, o silêncio
da máscara de Mike Meyers ou o que está por trás do que se vê a olho nu
em They Live. Essa ameaça invisível começa a ser
desenhada nos planos abertos e de linhas direitas das estradas em que
viajam, preparando-se, todos os que vão confluir para a esquadra (o pai e
a filha, os delinquentes, o homem dos gelados, os prisioneiros na
camioneta). Essa geometria do aberto serve como preparação da invasão,
do fechado.
Importante a questão da preparação. Os intertítulos do
filme de Carpenter a mostrar-nos as horas inspiraram os nervos de uma
série como 24, por exemplo. Mas no filme o avanço temporal é menos um dado em si e mais uma preparação do "momento oportuno", do kairós para um duelo espacial.
Já com Jack Bauer essa preparação temporal é objectiva, acelera-se, e a
contagem dos minutos contém sempre a cada hora uma pequena ejaculação em
seco: estamos no tempo do chronos e em particular no tempo
circular, das colheitas e das estações... de televisão. Passam as horas
de um dia que conduz ao próximo e em que cada hora é a reprodução
infinitesimal do conjunto das outras horas. É precisamente porque o
tempo de Carpenter não é o da circularidade, nem o do avanço
cronológico, que a morte da criança junto da camião de gelados surge
menos da tensão do que do choque, do momento inesperado e oportuno para o
que não é passível aos nossos olhos de oportunidade.
(vou
ver se uso Agosto para descansar sobre Carpenter e Cronenberg. Uns
filmes para ver pela primeira vez e outros para essa coisa que faço muito pouco e devia fazer muito mais: rever. Vamos ver se não me perco pelo caminho.)
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