terça-feira, 14 de julho de 2015

O cinquentão Ben Stiller


Ando há uns dias de volta de um texto de Emmanuel Burdeau, nome forte dos Cahiers entre 2003 e 2009, sobre o Ben Stiller. O texto faz parte de um livro deste ano chamado Comédie américaine, années 2000 e tenta recuperar ao estilo da célebre revista, uma série de gente como Jim Carrey, Will Ferrell, Judd Apatow ou mesmo Louis C.K. para o panteão da gente séria que faz comédia. Isso fez-me ir ver pela primeira vez filmes como Zoolander ou Tropic Thunder, que, muito sinceramente, envidei sérios esforços até hoje para evitar. Quando não pude mais esconder-me dos lábios de peixe do top model Derek Zoolander ou das tatuagens do actor que passa de atrasado mental para veterano que perde as mãozinhas na guerra do Vietname, não pude deixar de me surpreender pela continuidade formal da coisa. Não só, como diz Burdeau, a reflexão sobre o papel da imagem e da tecnologia (da televisão por cabo, ao cinema das estrelas, ao digital) mas sobretudo uma atenção fabulosa ao verniz do edifício de que o showbiz depende. O desejo final do modelo para fundar o Derek Zoolander Center For Children Who Can't Read Good And Wanna Learn To Do Other Stuff Good Too ou o Tom Cruise gordo a distribuir caralhadas em modo irmãos Weinstein são apenas dois exemplos desse olhar de dentro que corrói. O que suporta essa roda satírica é algo bem mais conservador: o receio do que muda, a valorização do passado. Seja na pele do velho ainda jeitoso que "resiste" à formatação pela imagem para matar o líder da Malásia, seja do actor que tem medo que nunca vir a ganhar um Óscar, seja o olhar analógico que resiste à higiene digital, que impõe a aventura da captura das imagens à administração económica que gera a transição da vida, da Life

 Fica assim resolvido o mistério dos adoradores de Ben Stiller. Não é o elogio da parvoíce mas o talento para a fabricação de uma falsa parvoíce. Porque filmes como Zoolander ou Tropic Thunder são tudo menos inócuos. Ou não fossem estes a obra de um quase cinquentão.

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