Ando há uns dias de volta de um texto de Emmanuel Burdeau, nome forte
dos Cahiers entre 2003 e 2009, sobre o Ben Stiller. O texto faz parte de
um livro deste ano chamado Comédie américaine, années 2000 e tenta
recuperar ao estilo da célebre revista, uma série de gente como Jim
Carrey, Will Ferrell, Judd Apatow ou mesmo Louis C.K. para o panteão da
gente séria que faz comédia. Isso fez-me ir ver pela primeira vez filmes
como Zoolander ou Tropic Thunder,
que, muito sinceramente, envidei sérios esforços até hoje para
evitar. Quando não pude mais esconder-me dos lábios de peixe do top
model Derek Zoolander ou das tatuagens do actor que passa de atrasado
mental para veterano que perde as mãozinhas na guerra do Vietname, não
pude deixar de me surpreender pela continuidade formal da coisa. Não só,
como diz Burdeau, a reflexão sobre o papel da imagem e da tecnologia
(da televisão por cabo, ao cinema das estrelas, ao digital) mas
sobretudo uma atenção fabulosa ao verniz do edifício de que o showbiz
depende. O desejo final do modelo para fundar o Derek Zoolander Center For Children Who Can't Read Good And Wanna Learn To Do Other Stuff Good Too ou o Tom Cruise gordo a distribuir caralhadas em modo irmãos
Weinstein são apenas dois exemplos desse olhar de dentro que corrói. O
que suporta essa roda satírica é algo bem mais conservador: o receio do
que muda, a valorização do passado. Seja na pele do velho ainda jeitoso
que "resiste" à formatação pela imagem para matar o líder da Malásia,
seja do actor que tem medo que nunca vir a ganhar um Óscar, seja o olhar
analógico que resiste à higiene digital, que impõe a aventura da captura
das imagens à administração económica que gera a transição da vida, da Life.
Fica assim resolvido o mistério dos adoradores de Ben Stiller. Não é o
elogio da parvoíce mas o talento para a fabricação de uma falsa
parvoíce. Porque filmes como Zoolander ou Tropic Thunder são tudo menos inócuos. Ou não fossem estes a obra de um quase cinquentão.
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