No outro dia estava todo excitadinho que até ia deixar escapar a cena de Tropic Thunder que acho mais genial. Mas hoje quando acabei de ver Follow the Boys de A. Edward Sutherland, um filme organizado em sketches sobre o contributo dos artistas norte-americanos para a segunda guerra mundial, lembrei-me outra vez da dita cena. No filme de 44, que até tem o mágico Orson Welles a serrar ao meio a Marlene Dietrich, há esta lógica do entreter a todo o custo os soldados (ou melhor os “rapazes”) entre destacamentos, e a formulação de uma máquina de fazer sonhar a todo o tempo e em quaisquer circunstâncias. Na comédia de Ben Stiller, quando este é capturado no meio da selva asiática por traficantes de droga, estes reconhecem-no como sendo o actor que faz de Jack, uma personagem atrasada mental e coração de ouro, a fazer lembrar o Jack Jack com Robin Williams e o Forrest Gump. Se já tinha sido perspicaz a ideia de que ele não tinha ganho o óscar porque neste caso era deficiente total e Hollywood só premeia “if you don’t go fully retarded” (basta recuar uns meses apenas para a estatueta da Redmayne pelo seu “Stephen não totalmente deficiente Hawkins” e perceber como isto é um facto), mas dizia, se isso era bom, depois quando fazem a Stiller uma peruca de fios de casca de coco e o obrigam a fazer um teatrinho desse filme para as “tropas”, estamos num outro nível de absoluta genialidade. Outra vez “entertaining the boys” a qualquer preço, com o palhaço triste agrilhoado a ficar contente como profissão. E nessa cena, por sua vez, lembrei-me do “teatro de humilhação” a que estão submetidos os nossos amigos helénicos. Para não julgarem que isto é só livre associação, ou mesmo que o achem, chamo em minha defesa uma frase do Miguel Gomes, com o qual conversámos há uns dias (e que em breve lançaremos sob a forma de filme falado no À pala de Walsh): os filmes também devem permitir ao espectador delírios. Este é o meu que coloca em raccord a cara de Tsipras e o nosso amigo Jack, aqui já só meio atrasado mental, que na selva representa a sua fraqueza, a sua humilhação.
quinta-feira, 16 de julho de 2015
Associação (quase) livre
No outro dia estava todo excitadinho que até ia deixar escapar a cena de Tropic Thunder que acho mais genial. Mas hoje quando acabei de ver Follow the Boys de A. Edward Sutherland, um filme organizado em sketches sobre o contributo dos artistas norte-americanos para a segunda guerra mundial, lembrei-me outra vez da dita cena. No filme de 44, que até tem o mágico Orson Welles a serrar ao meio a Marlene Dietrich, há esta lógica do entreter a todo o custo os soldados (ou melhor os “rapazes”) entre destacamentos, e a formulação de uma máquina de fazer sonhar a todo o tempo e em quaisquer circunstâncias. Na comédia de Ben Stiller, quando este é capturado no meio da selva asiática por traficantes de droga, estes reconhecem-no como sendo o actor que faz de Jack, uma personagem atrasada mental e coração de ouro, a fazer lembrar o Jack Jack com Robin Williams e o Forrest Gump. Se já tinha sido perspicaz a ideia de que ele não tinha ganho o óscar porque neste caso era deficiente total e Hollywood só premeia “if you don’t go fully retarded” (basta recuar uns meses apenas para a estatueta da Redmayne pelo seu “Stephen não totalmente deficiente Hawkins” e perceber como isto é um facto), mas dizia, se isso era bom, depois quando fazem a Stiller uma peruca de fios de casca de coco e o obrigam a fazer um teatrinho desse filme para as “tropas”, estamos num outro nível de absoluta genialidade. Outra vez “entertaining the boys” a qualquer preço, com o palhaço triste agrilhoado a ficar contente como profissão. E nessa cena, por sua vez, lembrei-me do “teatro de humilhação” a que estão submetidos os nossos amigos helénicos. Para não julgarem que isto é só livre associação, ou mesmo que o achem, chamo em minha defesa uma frase do Miguel Gomes, com o qual conversámos há uns dias (e que em breve lançaremos sob a forma de filme falado no À pala de Walsh): os filmes também devem permitir ao espectador delírios. Este é o meu que coloca em raccord a cara de Tsipras e o nosso amigo Jack, aqui já só meio atrasado mental, que na selva representa a sua fraqueza, a sua humilhação.
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