Em 1978, Carpenter realizou dois filmes e escreveu outro
sensivelmente sobre o mesmo tema: a relação entre vítima e
assassino. Halloween, Someone's Watching Me! e Eyes of Laura Mars
(este último realizado por Irvin Kershner e com Faye Dunaway e Tommy
Lee Jones). É sobretudo por estes três filmes que muita gente tenta
ligar Carpenter a Hitchcock. Se é certo que Assault era Hawks e que Halloween tem uma premissa mais hitccockiana e continua a ter Hawks (nem que seja na televisão quando o miúdo vê The Thing From Another World), é o filme que realizou para a televisão aquele que mais claramente evoca o mestre do suspense. Someone's Watching Me! é um racconto de Rear Window se
James Stewart não estivesse na ponta de um telescópio por acidente.
Embora o filme tenha alguns problemas, nomeadamente uma protagonista
demasiado engraçadinha e um ritmo algo aos solavancos, o seu final
deixa-nos a pensar em Hitchcock, televisão, voyeurismo...
No fim de Someone's Watching Me! o cordeirinho
fica preso no seu apartamento com o lobo. Mss como o cordeirinho fala
sempre demais diz-lhe para ele aparecer e não se esconder mais, algo que
havia feito durante todos os outros minutos do filme. Ela aí diz-lhe
que ele tem medo de se mostrar, que se sente bem apenas escondido, ou
algo do género. Quando cai pela janela ela dá aquelas punch lines, muito em voga: he got too close.
Demasiado perto já é o estatuto de um telefilme sobre a gestão erótica
da distância, mas a morte por proximidade pornográfica (enquanto
desvanecimento do estatuto do voyeur) é precisamente aquilo que corre o risco de matar o instinto de reclusão do espectador, do que olha ou do que faz, olhando.
E essa proximidade que mata está também nos planos iniciais com que
Carpenter filma o telescópio do predador, com que toca o universo de
Hitchocock. Esses planos tão perto e tão fálicos, embora provavelmente disso não tendo
consciência, destroem a aura de uma admiração para
construir um espaço de emulação obsessiva. Largando a abstracção: é
porque Someone's Watching Me! quer estar tão próximo de
Hitchcock que não o consegue. A excessiva proximidade é ela incapaz de
percepcionar o plano geral que é necessário a uma homenagem total, isto é, que leve traços
do observador e do observado. Talvez isto ajude a explicar a razão pela qual, apesar das aparências,
Carpenter não seja um realizador especialmente hitchcockiano.
Escrevi uma vez sobre as relações com Lang també (penso nisso mais em The Fog, Christine e Prince of Darkness). A aproximação com Hawks, me parece, muitas vezes fruto das entrevistas do próprio Carpenter.
ResponderEliminarSem dúvida em relação a Hawks, Raul. Há aquela premissa do Rio Bravo em Assault, que depois se vê de forma mais abstracta na noção de enclausuramento em outros filmes. Mas não muito mais. Podes mandar-me o link dessa relação com Lang? Obrigado pelo comentário.
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