terça-feira, 4 de agosto de 2015

Halloween e as folhas de Outono


No outro dia falava nos planos abertos e na ideia de preparação no Assalto à 13ª Esquadra. Se se tiver isso em mente ao ver Halloween, torna-se claro a sua respiração, a inspiração tensional dos espaços fechados (cena inicial e última meia hora, na realidade o melhor do filme) e a expiração falsamente descontraída dos espaços exteriores. Umas das coisas mais aterradores nesse exterior é como Carpenter percebe que o vento e as folhas secas de Outono nos podem dar a desolação de um espaço sem guarda, mas vagamente melancólico. Não é esse também o propósito de Myers, voltar à cidade de infância? Muito se fala, e com razão, da forma como acaba Halloween, em que o assassino desaparece no relvado após ser baleado tornando-o num boogeyman que não morre, uma ameaça indestrutível de dimensão mítica que percorre toda a América. O tema da "ameaça sem rosto", que se desvanece por todos e nenhum, caro a Carpenter, precisa desse oposição de espaços. O exterior, aquele onde a ameaça vagueia, sem corpo, nos travellings laterais e se prepara, de forma lenta e até por vezes a roçar o abstracto, para entrar, e o interior, onde a ameaça finalmente ganha corpo físico, nas casas, nos faróis, nas esquadras, numa comunidade local... Porque não há materialização definitiva do mal, o exterior torna-se tão árido, com as coisas longe umas das outras, como espaço de aceleração. Depois de acelerar, Carpenter aperta o seu cinema nesse acto de "entrar em" (invadir) ou "escapar de". Como esquecer aquela corrida de Jamie Lee Curtis no relvado da casa em frente depois do primeiro encontro com Myers? Uma figuração do desespero.  

Halloween é essa respiração onde o exterior quer ir para dentro e o interior, mal atingido pela desolação do exterior, precisa urgentemente de sair...

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