No outro dia falava nos planos abertos e na ideia de preparação no Assalto à 13ª Esquadra. Se se tiver isso em mente ao ver Halloween,
torna-se claro a sua respiração, a inspiração tensional dos espaços
fechados (cena inicial e última meia hora, na realidade o melhor do
filme) e a expiração falsamente descontraída dos espaços exteriores.
Umas das coisas mais aterradores nesse exterior é como Carpenter percebe
que o vento e as folhas secas de Outono nos podem dar a desolação de um
espaço sem guarda, mas vagamente melancólico. Não é esse também o
propósito de Myers, voltar à cidade de infância? Muito se fala, e com
razão, da forma como acaba Halloween, em que o assassino desaparece no relvado após ser baleado tornando-o num boogeyman
que não morre, uma ameaça indestrutível de dimensão mítica que percorre
toda a América. O tema da "ameaça sem rosto", que se desvanece por
todos e nenhum, caro a Carpenter, precisa desse oposição de espaços. O
exterior, aquele onde a ameaça vagueia, sem corpo, nos travellings
laterais e se prepara, de forma lenta e até por vezes a roçar o abstracto,
para entrar, e o interior, onde a ameaça finalmente ganha corpo físico,
nas casas, nos faróis, nas esquadras, numa comunidade local... Porque
não há materialização definitiva do mal, o exterior torna-se tão árido,
com as coisas longe umas das outras, como espaço de aceleração. Depois
de acelerar, Carpenter aperta o seu cinema nesse acto de "entrar em"
(invadir) ou "escapar de". Como esquecer aquela corrida de Jamie Lee
Curtis no relvado da casa em frente depois do primeiro encontro com
Myers? Uma figuração do desespero.
Halloween é essa respiração onde o exterior quer
ir para dentro e o interior, mal atingido pela desolação do exterior,
precisa urgentemente de sair...
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