“-Você obstruiu o poço
esta manhã.
-Sim, foi para seguir em
linha recta. Mas depois do jantar vou atravessar o pátio. Tenho de conservar as
linhas rectas. E você conhece Joe Davis, o meu velho, é por isso que lhe digo
isto. Tenho ordens para que em toda a parte onde haja uma família que ainda se
não tenha mudado, assim como que seja por acidente, percebe você, chegar-me
para bem perto e escavar a casa um pouco; e deste modo meto no bolso uns dois
dólares. E o meu filho mais novo ainda não soube o que eram sapatos.
-Eu construí-a por minhas
mãos. Endireitei pregos velhos para lhe pôr o forro. Liguei os barrotes às
traves com arame de rolo. É minha. Construí-a eu. Se você vem para a derrubar
eu apareço à janela com uma espingarda. Se você se aproximar muito eu mato-o
como a um coelho.
-Não sou eu. Nada posso
fazer. Perco o meu emprego se não cumpro ordens. E olhe, suponhamos que você me
mata. Que acontece? Enforcam-no a você, mas muito antes mesmo de você ser
enforcado, aparece outro sujeito no tractor e ele então deitará a casa abaixo.
Você não mata o verdadeiro responsável.
-Sim, tem razão –
assentiu o rendeiro – Então quem lhe deu ordens? Vou procurá-lo. É esse tipo
que eu devo matar.
-Você está enganado. Esse
recebeu ordens do banco. O banco disse-lhe: expulse essa gente toda, senão
perde o seu emprego.
-Sim, mas deve haver um
presidente do banco. Deve haver um conselho de administração. Vou encher a
espingarda de balas e entro no banco.
-Mas ouvi dizer que o
banco recebeu as ordens do Este – explicou o condutor. – E essas ordens eram:
fazer com que a terra dê lucro ou então fechamo-vos a porta.
-Aonde vai então isto parar?
Quem devemos alvejar? Não quero morrer de fome sem matar o homem que me está
esfomeando.”
John Steinbeck – “As
Vinhas da Ira”
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