terça-feira, 18 de agosto de 2015

Lesados do BES


“-Você obstruiu o poço esta manhã.

-Sim, foi para seguir em linha recta. Mas depois do jantar vou atravessar o pátio. Tenho de conservar as linhas rectas. E você conhece Joe Davis, o meu velho, é por isso que lhe digo isto. Tenho ordens para que em toda a parte onde haja uma família que ainda se não tenha mudado, assim como que seja por acidente, percebe você, chegar-me para bem perto e escavar a casa um pouco; e deste modo meto no bolso uns dois dólares. E o meu filho mais novo ainda não soube o que eram sapatos.

-Eu construí-a por minhas mãos. Endireitei pregos velhos para lhe pôr o forro. Liguei os barrotes às traves com arame de rolo. É minha. Construí-a eu. Se você vem para a derrubar eu apareço à janela com uma espingarda. Se você se aproximar muito eu mato-o como a um coelho.

-Não sou eu. Nada posso fazer. Perco o meu emprego se não cumpro ordens. E olhe, suponhamos que você me mata. Que acontece? Enforcam-no a você, mas muito antes mesmo de você ser enforcado, aparece outro sujeito no tractor e ele então deitará a casa abaixo. Você não mata o verdadeiro responsável.

-Sim, tem razão – assentiu o rendeiro – Então quem lhe deu ordens? Vou procurá-lo. É esse tipo que eu devo matar.

-Você está enganado. Esse recebeu ordens do banco. O banco disse-lhe: expulse essa gente toda, senão perde o seu emprego.

-Sim, mas deve haver um presidente do banco. Deve haver um conselho de administração. Vou encher a espingarda de balas e entro no banco.

-Mas ouvi dizer que o banco recebeu as ordens do Este – explicou o condutor. – E essas ordens eram: fazer com que a terra dê lucro ou então fechamo-vos a porta.

-Aonde vai então isto parar? Quem devemos alvejar? Não quero morrer de fome sem matar o homem que me está esfomeando.”

John Steinbeck – “As Vinhas da Ira”

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