terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Vontade forte, vontade fraca

Na composição do querer, que envolve um movimento de afastamento das hipóteses possíveis e um movimento de aproximação à coisa escolhida, Nietzsche fala-nos, com as palavras corrosivas e guerreiras de sempre, dos seus três elementos. Não há querer sem sensação, reflexão e afecto. 

Quando se fala tanto da falta de querer em relação às coisas - e não focando aqui no elefante da sala que compõe a formatação do self pelos artefactos técnicos - pensava apenas como esse querer é afectado na sua constituição também pela crise das hierarquias. Por sob a defesa de um valor erradamente tido como absoluto chamado liberdade, a ideia de exploração foi remetida para o espectro da invisibilidade. Ou seja, ela já não é tolerada naquilo que tem de visível e material mas esconde-se por detrás dos mecanismos invisíveis de controlo e de poder. Assim, é também nesse campo invisível por excelência, o interior do indivíduo, o espaço onde a autoridade está também ameaçada. Como se o indivíduo tivesse sido ensinado a não tolerar qualquer espécie de exploração, a começar pela exploração de si próprio por si próprio, ponto assim em risco a própria ontologia do querer

"Um homem que quer", diz Nietzsche, "ordena a algo dentro de si, que obedece, ou que ele julga que obedece." Ora, é precisamente esse "ordenar" e essa "obediência", esse esquema vivencial, que hoje está retoricamente posto de lado, demolindo social e psicologicamente essas condições do querer




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